domingo, janeiro 10, 2010

Lembrando Fogaça

              Carlos Cruz, entrevistador: «O que pensa da homossexualidade?»
              Álvaro Cunhal, entrevistado: «Acho que é uma coisa muito triste».

Quem disse que o PCP não se “moderniza”?

ADENDA – Comentário de José Albergaria:
    Caro Miguel,
    É um erro comum, que comete quem "pouco" conhece da história do PCP.
    É verdade que Fogaça era homossexual.
    Já se lhe conhecia essas preferências sexuais desde e na prisão do Tarrafal.
    Depois disso, dessa prisão, Fogaça teve grandes responsabilidades no PCP. Foi apontado mesmo como putativo SG, na clandestinidade.
    No IV Congresso é ele que elabora o Relatório do CC e sugere a "via pacifica" para derrubar o fascismo.
    É preso, creio que numa pensão na Nazaré com um jovem "marinheiro".
    É afastado "por quebra de disciplina partidária e afrouxamento das regras conspirativas".
    Nunca foi expulso ( à semelhança de Francisco Martins Rodrigues e, antes dele, Fernando Piteira Santos).
    Manteve-se no PCP até morrer.
    Foi mesmo, a seguir ao 25 de Abril Presidente da Comissão Administrativa da Câmara, creio eu, do Cadaval apoiado pelo PC.
    É um erro que muitos cometem.
    Você fê-lo, assim como o Pacheco Pereira na monumental biografia dedicada a Álvaro Cunhal.
    Nunca houve qualquer "processo" para expulsão contra júlio Fogaça.
    Um abraço.
    José Albergaria
    PS - A Wikipédia está errada.
    O PCP sempre foi muito liberal quanto aos costumes.
    Eu sei do que falo.

9 comentários :

jose albergaria disse...

Caro Miguel,
É um erro comum, que comete quem "pouco" conhece da história do PCP.
É verdade que Fogaça era homosexual.
Já se lhe conhecia essas preferências sexuais desde e na prisão do Tarrafal
Depois disso, dessa prisão, Fogaça teve grandes responsabilidades no PCP. Foi apontado mesmo como putativo SG, na clandestinidade.
No IV Congresso é ele que elabora o Relatório do CC e sugere a "via pacifica" para derrubar o fascismo.
É preso, creio que numa pensão na Nazaré com um jovem "marinheiro".
É afastado "por quebra de disciplina partidária e afrouxamento das regras conspirativas".
Nunca foi expulso ( à semelhança de Francisco Martins Rodrigues e, antes dele, Fernando Piteira Santos).
Manteve-se no PCP até morrer.
Foi mesmo, a seguir ao 25 de Abril Presidente da Comissão Administrativa da Câmara, creio eu, do Cadaval apoiado pelo PC.
É um erro que muitos cometem.
Você fê-lo, assim como o Pacheco Pereira na monumental biografia dedicada a Álvaro Cunhal.
Nunca houve qualquer "processo" para expulsão contra júlio Fogaça.
Um abraço.
José Albergaria
PS - A Wikipédia está errada.
O PCP sempre foi mutio liberal quanto aos costumes.
Eu sei do que falo.

Anónimo disse...

E o Ary dos Santos?

Não é exactamente verdade que o PCP fosse muito liberal quanto aos costumes nem se percebe como classificar a homossexualidade como «costumes». Usos e costumes da nossa terra?
Adiante e ao que interessa: a posição de Cunhal e do PCP, de uma forma geral, estava marcada pelo ar desse tempo. De certa forma é um outro muro de Berlim. Uma posição datada, pouco informada, sobretudo isso e preconceituosa.

Escrever que "O PCP sempre foi muito liberal quanto aos costumes" dá para pensar no que esta explicação tem de peso simbólico. Quase se poderia ler neste postulado o seu contrário.

Anónimo disse...

Por razões familiares convivi bastante, depois do 25 de Abril, com um importante dirigente comunista. Falámos de Fogaça e só lhe ouvi referências elogiosas. Nem críticas nem animosidades. Aqui fica um testemunho que, naturalmente, vale o que vale.

o castendo disse...

Só uma correcção:
Relatório ao V e não ao IV Congresso do PCP

weber disse...

1/ E o que tem que ver o Ary dos Santos com este assunto do Júlio Fogaça?
2/Quando digo "liberal quanto aos costumes" - significa que as questões afectivas, sexuais, comportamentais individuais NUNCA pesaram muito na vida interna do PCP.
3/As questões "morais" que pesavam eram decorrentes da MORAl revolucionária (como se comportar face à policia; como se comportar na prisão; como dirigir uma luta; como cuidar do património e dos bens do Partido e etc).
4/Tem toda razão: o informe do Fogaça foi feito ao V Congresso realizado em 1957 (o IV foi realizado em 1946), estava o Cunhal na cadeia de onde sairia em 1959;
Nota Final - Depois de preso, durante os interrogatórios, Júlio Fogaça foi "chantageado" pela PIDE sobre as suas preferências sexuais: nem o seu nome declinou. Para o PCP isso é que contava.
Este tipo de debates, troca de ideias e informações vale quando não se introduz o preconceito,ou a banalidade das fórmulas.
O que vale é a verdade factual.
Só depois é que poderão emergir as análises e as interpretações.
Jopsé Albergaria

Ana Matos Pires disse...

«Já se lhe conhecia essas "preferências" sexuais desde e na prisão do Tarrafal.» Liberal e informado até dizer chega,como se prova.

Anónimo disse...

Na Comissão administrativa da Câmara do Cadaval, Fogaça aparece aoiado pelo MDP.... a via paralela para onde transitaram alguns que não podiam estar no PCP... como o Fogaça, que era homossexual. pessoalmente. O Bombarral era um centro de oposição ao regime; por lá fiz as minhas aprendizagens políticas. E conheci pessoalmente Fogaça.
MM

jose albergaria disse...

Cara Ana Matos Pires,
Sou seu leitor atento no Jugular. Já devia estar habituado a "descodificar" os seus textos. Mas, este, que aqui coloca, não o consigo, exactamente, fazer.
Se o entendi , só lhe posso dizer o seguinte:
Em historiografia, na narrativa da história é, sempre, errado fazer leituras sincrónicas.
Olhar os tempos de brasa, onde os valores eram outros, os constrangimentos diferentes, da década de 40 do século XX, no Campo de Concentração do Tarrafal -com os olhos de hoje, no day after da aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo!...

Caro MM,
Insisto na minha tese: Júlio Fogaça não foi expulso do PC; foi "afastado" de lugares de responsabilidade e não por homosexualidade.
No PCP nunca, que eu saiba, ninguém foi afastado, expulso, ou despromovido por comportamentos "sexuais".
Coisa diferente ocorreu nos movimentos maoistas durante o fascismo ( o JPP conhece bem isto...) e no MRPP no pós 25 de Abril (a Ana Gomes, a Maria José Morgado, o Durão Barroso sabem muitos destes tópicos...).
O facto de se estar no MDP nunca significou o que você diz.
Vitor Dias, Lino de Carvalho, Sérgio Ribeiro, Eugénio Rosa, Herberto Goulart, Lindim Ramos ( e só para citar estes, mantiveram-se no MDP depois de Abril de 1974...) e NUNCA deixaram de estar LIGADOS ao PCP.
Uma nota final.
Até à morte, Júlio Fogaça, foi um muito importante DADOR de Fundos para o PCP. Era um homem com uma imensa fortuna.
Deixou uma boa parte da Mesma à Academia das Ciências, que com essa soma instituiu um Prémio de História Contemporânea.
E mais não digo.
José Albergaria

João Fragoso disse...

Apenas dois apontamentos:

1. José Albergaria merece destaque por ter dito aqui aquilo que dezenas de «opinion makers» nunca foram capazes de se aperceber: é que na verdade Fogaça nunca foi expulso; foi suspenso e, depois, nunca mais se mexeu no assunto, o que só não compreenderá quem não perceber as condicionantes da época.

2. Quanto à afirmação - verdadeira, sublinho - de Álvaro Cunhal sobre a homosexualidade, FALTOU LEMBRAR AQUI QUE, LOGO A SEGUIR, SALVO ERRO NUMA ENTREVISTA A UMA REVISTA, ÁLVARO CUNHAL ESCLARECEU QUE SE TRATAVA DA SUA OPINIÃO E NÃO A DO PCP.