domingo, fevereiro 14, 2010

No plano estritamente político…




Desde o inefável Paulo Rangel até ao moralista José Manuel Pureza, os críticos do Governo (e em especial de Sócrates) têm afirmado que não discutem o processo Face Oculta ou as escutas no plano judicial.

Após esta afirmação piedosa de princípio, passam imediatamente ao que (lhes) interessa: a dita relevância política das escutas, que na sua opinião fará cair Sócrates e o Governo e fazer regressar ao poder aqueles que perderam nas urnas, há menos de seis meses, de acordo com a vontade expressa do povo português.

Em tudo isto, há uma contradição em que estes pequenos políticos nem reparam.

As escutas só são admitidas na medida em que têm relevância para a perseguição de crimes. É isso que as torna admissíveis, no processo penal, e que justifica uma autorização do juiz que põe em causa a privacidade e a reserva da vida privada. Fora deste contexto, a recolha ou a utilização de escutas constitui, pura e simplesmente, um método pidesco de obter vantagens num divórcio, numa luta empresarial ou na disputa político-partidária.

A única atitude coerente e compatível com a Democracia (com d maiúsculo) é separar a esfera judicial da luta política. À escala portuguesa, é mais ou menos como se no caso Watergate o tópico de discussão fossem as escutas ilegais feitas na sede do Partido Democrata e não a responsabilidade de quem as mandou fazer.

Se os Rangéis e os Purezas deste país têm algum apego à democracia e o mínimo sentido de decência, devem intervir na luta política com armas políticas e não com aquelas q1ue são ilicitamente fornecidas por algumas pessoas que, a título de excepção, desonram o mundo judicial.

12 comentários :

Anónimo disse...

és um belo artista!então um gajo que acabe de ser eleito e matar outro tem quatro anos de "liberdade" legitimada democráticamente?

baladupovo disse...

Não vale a pena fingir mais, é por demais evidente a campanha produzida por uma determinada comunicação social em conluiu espúrio com determinados 'agentes' infiltrados dentro da própria Justiça, em perseguição fascista, pessoalizada, contra um 1º Ministro eleito democráticamente em Portugal.

Qualquer pessoa séria em Portugal não pode alinhar nem concordar que determinados jornalistas queiram substituir-se aos Tribunais. E aqui acho até que Francisco Louçã resumiu bem a 'coisa': «A Justiça ou serve à Justiça ou não serve a ninguém».

João Pedro Lopes disse...

Faz sempre lembrar alguém que assiste a um atropelamento (violação de segredo de justiça e desobediência a providência cautelar, além de falta de simples decoro), mas já agora que aconteceu, vamos lá a ficar com a carteira do atropelado e beber uns copos à pala

Anónimo disse...

Pois sim, anónimo das 2.22. Mas acontece que ninguém aqui cometeu nenhum homicídio.
Não condenem antes da justiça condenar.
Não se precipitem. Porque depois de tanto desejo que a realidade seja o que desejam, a ressaca é bem pior. Porque a realidade é o que é. Experimente não ver tv, nem ler jornais e pensar pela própria cabeça com base em principios de decência humana.
O resultado vai ser surpreendente, vai ver.
Anónimo do séc XXI

Anónimo disse...

Muito bem, Caro Miguel.

Anónimo disse...

Há uma coisa que me deixa um pouco perdido.
A comunicação social é práticamente toda propriedade de elementos do psd.
Depois dizem que há asfixia democrática.
Ora bem aqui é que não percebo, com os jornais e televisões todos a malhar para o mesmo lado (contra o ps), onde está a asfixia?

Anónimo disse...

criticar é uma ingerência legítima; elogiar as instâncias (altas) do aparelho judicial já não é interferência! Entendam-se!!!!

Prof-Forma disse...

O problema é se a Justiça de Aveiro esteve a um passo de apanhar Sócrates numa marosca valente e o PGR (que está onde está opor indicação do Governo a que Sócrates preside), mancomunado com o Supremo, abafaram o caso. Ora, a julgar pelas escutas divulgadas pelo Sol - que, se estão descontextualizadas, cumpre que alguém o diga, e de caminho contextualize frases como «o chefe quer correr com o Moniz» ou «o Sócrates diz que tem de ser a PT, especificamente, a comprar a TVI» -, as coisas parecem mais próximas disso do que de outra coisa.Aí é que a porca torce o rabo...

Nuno disse...

Portanto estão todos mancomunados uns com os outros, o PM o PGR, o PSTJ, excepto os de Aveiro que são umas virgens que agem por altruismo e por dever ao cargo que ocupam! E por isso andaram a escutar o PM sem qq motivo e sem a devida autorização do STJ.
Larga o vinho pá!

Sebastião del cano disse...

A justiça Portuguesa, está num pântano. O jornalismo, está num pântano. A Presidência, está num pântano.A Oposição , está num pântano.As televisões, estão num pântano.O futebol, está num pântano.Os comentadores, estão num pântano.
Os Portugueses,através de sondagens recentes , consideram Sócrates,a pessoa, para os livrar do pântano!perto de 39%. Éh,Éh...

Cristiano disse...

Caro Miguel, este post, mesmo vindo de si, é do mais enganador que pode haver.
Neste caso as escutas foram feitas pelas autoridades competatentes, a única coisa que pode estar em causa é a violação do segredo de justiça, não a legitimidade das escutas. Bem diferente do caso watergate em que as escutas foram efectuadas, não a mando do poder judicial, mas sim do próprio presidente Nixon. Percebe a diferença??
Já agora mesmo em relação ás escutas Watergate, por acaso acha que se tivesse sido encontrado algo de incriminatório contra os democratas (não encontraram nada) essa informação não teria servido para debilitar politicamente os democratas? Sinceramente parece-me que é necessário um pouco mais de seriedade nesta discussão.

José Silvério disse...

Tenho lido aquilo que se tem dito e escrito acerca da polémica do momento. Reconheço que ao Miguel assiste de facto alguma razão na forma como a oposição se tem aproveitado de toda esta questão.
Mas o Primeiro-Ministro, sem prejuízo do demais, tem muita culpa nisso, nomeadamente pela estratégia que tem vindo a desenvolver.
Há, no entanto e a propósito desta relação com a Justiça, uma coisa que me preocupa e que, como presumo seja do seu conhecimento, vai sendo dito nos bastidores: o acordo existente entre PS e PSD para na próxima revisão constitucional retirarem os Tribunais de Órgãos de Soberania. A ser verdade, não lhe parece que é uma coincidência temporal manifesta, mas acima de tudo algo de preocupantemente grave??? Ou são só sinais do tempo e do caminho que o nosso país vem seguindo?
José Silvério