terça-feira, maio 31, 2011

Adivinha

Há uma tracking poll que dá hoje um aumento de 0.6 pp do PSD em relação ao PS (sendo que os dois partidos são os únicos que sobem). Um órgão de comunicação social refere-se-lhe assim:

Enviado pelo leitor Manuel G.


Adivinhe qual é essa publicação. Escolha uma das hipóteses:
    • O Diabo;
    • Sol;
    • Correio da Manha;
    • O Crime;
    • Jornal do Incrível;

    • Outro.

    Confirme o seu palpite aqui.

Querem ver o que acontece quando se defende o contribuinte (e a Escola Pública) dos lobbies que querem abocanhar o Orçamento do Estado?


Enviado por Francisco A.

… e os desempregados seguem seguiriam dentro de momentos

Um mal nunca vem só: primeiro, são atirados para o desemprego; depois, quando pretendem receber o subsídio de desemprego para o qual fizeram descontos, ficam a saber que têm de fazer “trabalho cívico”. É esta a lógica do projecto de lei n.º 266/XI do PSD, apoiado pelo CDS, que foi chumbado no Parlamento. Passos Coelho deu um primeiro sinal de que o pretende recuperar, ao fazer sua a posição do CDS em relação ao RSI. Portas rejubilou.

PS — A Ana desmonta a lógica da batata.

Passos ameaça: Santana “talvez volte”



Fantasmas atrás de fantasmas: depois de Meneses e Ferreira Leite, o PSD foi hoje ao sótão buscar Santana Lopes. Esta gente não se lembra do que dizia de Passos (no caso de Santana, há meia dúzia de dias)?

A imprevisibilidade e instabilidade

• Vital Moreira, Troca de posições [hoje no Público]:
    ‘A frase de Paulo Portas, há dias, segundo a qual o CDS se encontra agora mais à esquerda do que o PSD nunca poderia ter sido proferida até agora sem ser tomada como simples boutade política O que a tornou inesperadamente credível não foi nenhuma deslocação do primeiro para a esquerda mas sim uma notória deriva do segundo para a direita. Quais são as implicações desta transfiguração política?

    (…) Tudo mudou com a chegada da Passos Coelho à liderança do PSD. Embora os sinais viessem de trás designada mente desde a proposta de Marques Mendes, há uns seis anos, de privatização substancial do sistema de pensões foi com o atual líder que apareceu uma agenda caracterizadamente neoliberal na esfera social e não somente na esfera económica. Desde o polémico projeto de revisão constitucional de há um ano até ao presente programa eleitoral em vista das eleições de 5 de Junho, tornaram-se claros os contornos da ofensiva laranja contra o “acquis social” pós revolução de 1975. Dela fazem parte, entre outros aspetos, o estabelecimento de um teto nas contribuições para o sistema público de pensões, desviando o resto para fundos de pensões privados a redução do SNS a um programa básico de cuidados de saúde, lançando o resto no mercado, ao mesmo tempo que se propõe a chamada liberdade de opção entre o sistema público e o privado, à custa do orçamento, o mesmo se propondo para o ensino, que seria rapidamente privatizado a expensas do Estado.

    Quando o líder do PSD se permite dizer, aliás sem receio de contestação, que o seu programa eleitoral é bem mais radical do que o programa da troika, ele não quer referir-se somente às medidas de ajustamento orçamental e financeiro mas também ao programa de privatizações e, bem entendido, à referida reconfiguração dos três pilares básicos do Estado social que são a educação a saúde e a segurança social. O PSD conseguiu o que desde o verão de 2010 era o seu objetivo prioritário, ou seja, fazer tudo para forçar o pedido de ajuda externa, para depois utilizar as condições políticas daquela para alavancar uma ofensiva em forma contra o nosso Estado social. Antes de combater a crise orçamental, o PSD está sobretudo interessado em servir se dela para acionar o seu próprio programa económico, social e ideológico.

    Como se não bastasse o fundamentalismo liberal em matéria económica e social, o líder do PSD resolveu inesperadamente juntar uma dose de reacionarismo ideológico, ao ensaiar um despudorado flirt com a cruzada da direita católica contra a despenalização do aborto. (…)

    Ao ultrapassar o CDS pela direita, o qual adotou posições menos aventureiras e mais prudentes em qualquer dos referidos domínios, o PSD não questiona somente a dimensão social e o liberalismo moderado da sua herança política e doutrinária, por mais indefinida que esta fosse. Reposiciona-se também no nosso espectro político-partidário, baralhando as tradicionais fidelidades ideológicas e sociológicas Decididamente, o nosso sistema político não precisava de mais este fator de imprevisibilidade e de instabilidade…’

O efeito Abreu Amorim



[Repórter da RTP relata o flop da passagem de Passos por Viana.]

Como se faz uma campanha

Ontem, enquanto a SIC noticiava isto:

O risco de Portugal não cumprir as condições do acordo negociado com o FMI e a Comissão Europeia está a levantar grande preocupação entre alguns elementos da Troika. Os prazos são muito curtos e não estão a ser feitos estudos técnicos para ajudar o novo Governo a decidir.

Passos Coelho anunciava isto:


o líder do PSD afirmou que a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional (FMI) estão a contar com a mudança de Governo. «Eles não podem dizer que o Governo tem de mudar, porque eles não podem ingerir-se na política portuguesa, mas, no fundo, é com isso que eles contam».
Entretanto, a primeira informação já foi desmentida:


O FMI diz que é «falsa» a notícia de que a "troika" estará preocupada com uma eventual incapacidade de Portugal para cumprir as medidas e os prazos do plano de resgate. Também o porta-voz do comissário europeu para os Assuntos Económicos e Financeiros, Altafaj Tardio, desmentiu qualquer preocupação da parte da Comissão Europeia com uma eventual incapacidade de Portugal para cumprir as medidas acordadas com a "troika".

Hoje à noite, o dono da SIC é o orador convidado no comício do PSD.

Nem no DN se lê o DN

“Com a campanha à beira do fim e sem que o PS consiga, nas sondagens, passar uma só vez o PSD (…)”, escreve hoje David Dinis no DN [p. 4]. O jornalista não conhece as sondagens da Universidade Católica, por acaso pagas e publicadas pelo DN?

O programa oculto do PSD — Que é feito do “pote” diplomático?

Uma das grandes medidas preconizadas por Pedro Reis para o programa do PSD é a de virar do avesso a diplomacia portuguesa: “Escolher embaixadores políticos com perfil de gestão e dar-lhes formação sobre a realidade empresarial do país”. Por que razão nunca mais se ouviu desta medida — as “Novas Oportunidades” do PSD para os boys?

Sol na moleirinha



O Dr. Paulo Portas diz hoje em entrevista ao i o seguinte: "o PS vai perder as eleições como perdeu na Irlanda e na Grécia e como vai perder o primeiro-ministro espanhol". Apesar dos chapéus, o sol das feiras anda a fazer-lhe mal. Na Irlanda quem perdeu eleições foi o Fianna Fail, partido do centro-direita. Na Grécia quem perdeu as eleições foi a Nova Democracia, partido de direita, cujo nome inspirou o partido dos antigos amigos do Dr. Portas, Manuel Monteiro e Carlos Abreu Amorim. Também não é verdade que o primeiro-ministro espanhol vá perder as próximas eleições, já que anunciou há algum tempo que não se recandidata. Não acerta uma, o candidato a ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros.

A matilha


Vale a pena ler este texto e o que lhe deu origem
Tresandam a ódio. O ódio dos intolerantes. E dos famintos.

♪ Na hora de escolher, opte pelo melhor [10 - a determinação]

First Song

A palavra aos leitores — O programa oculto do PSD

De e-mail enviado pelo leitor João L:
    Viram o artigo sobre a saúde de Paul Krugman que o jornal i transcreve. A determinada altura diz sobre o plano de Direita:"A realidade é que o plano está a transformar-se num desastre político para os republicanos, não porque os seus críticos estejam a mentir mas porque estão a descrevê-lo com rigor".

    Será por isso que alguns, também em Portugal, fogem à discussão séria dos seus programas?

Uma diferença do tamanho do mundo

Qual a sua prioridade para o país?”, tem perguntado o DN aos cabeças de lista dos vários distritos. Hoje, é a vez de Viana do Castelo.

Resposta de Fernando Medina (PS): “A prioridade é o crescimento económico.”

Resposta de Carlos Abreu Amorim (PSD): “Colocar fora do Governo Sócrates e seus acólitos.”

O que chega e não chega a Bruxelas

Consta que Passos Coelho terá dito que a "União Europeia está à espera de mudança de Governo nas eleições de domingo". Quem confidenciou tal coisa ao líder do PSD? Aparentemente, ninguém. O que sustenta a sua convicção é algo simples: "Porque se não, não teriam dito que os outros partidos podem ganhar as eleições”.

Confirma-se, portanto, que lá longe na Europa sabe-se que Portugal é uma democracia - há eleições e, imagine-se, outros partidos que não aquele que está agora no poder podem ganhá-las (!) - e que para Passos Coelho isto basta para pensar que até o apoiam.

Lá na Europa não devem é saber que se trata do candidato a primeiro-ministro mais inexperiente da história da democracia portuguesa.
    Pedro T.

segunda-feira, maio 30, 2011

Da tragédia grega à comédia do Parque Mayer

Sócrates mostra-se aberto ao diálogo e ao entendimento com os restantes partidos políticos. Passos Coelho recusa, querendo uma maioria absoluta para impor a mudança do regime económico com que sonha. Apesar das diferenças óbvias entre os dois países, o líder do PSD acenou hoje com o fantasma da Grécia para justificar a necessidade de uma maioria absoluta. Alguém pode explicar ao Dr. Passos Coelho que o problema político da Grécia não é a falta de uma maioria, mas a incapacidade de o Governo e a oposição estabelecerem entendimentos?

Ainda que mal pergunte… [37]

Depois de ouvir, por exemplo, Luís Filipe Menezes, na Afurada, a falar de indianos, paquistaneses e africanos nos comícios do PS, é exagerado considerar a hipótese de que os estarolas da São Caetano estão a lepenizar o PSD?

Intenções de voto e resultados eleitorais



Da leitura deste quadro editado por Pedro Magalhães, retiro que o PSD aparece, na última semana de campanha (desde 2002), sobrevalorizado nas (declarações de) intenções de voto: de um a três pontos percentuais.

O politólogo faz alusão um estudo de que é um dos co-autores que pode ajudar a aprofundar o que está em causa.

A importância de ter memória

João Galamba quer que Pedro Correia discuta o programa do PSD em vez de assumir o papel de fotocopiadora. Tarefa impossível, porque ele esbarraria logo no primeiro item que reproduz. Não há muitos anos, ele escrevia um artigo no qual mostrava que “Portugal já tem hoje o menor número de deputados por habitante de todos os países da Europa Ocidental com apenas uma câmara legislativa e de vários países com duas câmaras, como sucede com a Irlanda.” Poderia ele vir defender a redução do número de deputados?

“Se há algo que marca estas eleições é a inflexão ultraliberal do PSD”

• André Freire, Responsabilização, representação e constrangimento [hoje no Público]:
    ‘(…) se há algo que marca estas eleições é a inflexão ultraliberal do PSD. Com uma clara separação de águas é expectável que a função de representação ganhe mais peso. É possível apontar no programa do PSD várias medidas que ilustram tal inflexão: a brutal deterioração dos serviços públicos centrais (APC) por via da regra um (entrada na função pública) para cinco (saídas), apesar de o PS ter reduzido o emprego na APC em cerca de 60 mil lugares; redução dos gastos públicos na saúde e educação (via acordo com a troika) e, simultaneamente, financiamento do ensino e da saúde privados (cheque ensino, deduções fiscais, etc.); privatização de partes do SNS; um programa de privatizações muito mais arrojado do que o da troika; etc., etc. Muitos dirão: mas quem lê os programas? É verdade, mas o problema é que vários indicadores apontam no mesmo sentido e dão credibilidade à dita inflexão. Quando pensamos que as frases quer do PCP (“o PSD quer ser mais ‘troikista’ do que a troika”, ideia aliás corroborada por Passos Coelho), quer do CDS (“O PP é menos liberal e tem mais consciência social do que o PSD”) fazem todo o sentido, percebemos que a reputação ideológica do PSD está a mudar. Esta drive favorece o CDS mas também a esquerda, nomeadamente o voto útil neste campo. E contribui para explicar a resiliência do PS.’

Se calhar, o secretário de Estado da Cultura já está apalavrado

As deambulações de Passos Coelho têm o selo da OMAC — “Organização Marco António Costa”, nas quais é “notória a ‘prosperidade’ dos meios, com vários ecrãs gigantes espalhados”, conta João Pedro Henriques no DN. E, mais à frente, o jornalista descreve o clima em que se desenrolam os passeios de Passos Coelho: “Mais tarde, na Afurada (Gaia), em mais uma ‘OMAC’ (onde o chamariz se chamou Quim Barreiros, de quem Passos faz a primeira parte do ‘concerto’) (…)”. Quim Barreiros, brinde da OMAC, na Cultura?

Estudar para quê?



Os "jovens desempregados podem ter uma oportunidade na agricultura", disse Pedro Passos Coelho num almoço dedicado às questões da agro-pecuária no concelho de Ponte de Lima.

Já todos percebemos porque é que é que o programa do PSD não tem uma referência ao prolongamento da escolaridade obrigatória até aos 18 anos.

A solução para os jovens portugueses, em particular para os desempregados, não é estudar mais. As novas oportunidades estão no campo.
    Pedro T.

UE: não há "qualquer alteração significativa" no acordo com a 'troika'

A União Europeia veio confirmar hoje o que Sócrates havia dito: as diferenças entre a versão preliminar e a final do acordo com a troika são "acertos", por forma a “manter a coerência” entre a União Europeia e o FMI.

PS — O Governo sempre disse que foi uma fonte não autorizada a passar o documento da troika para os jornais. Será a confissão de Catroga de que não conhecia nenhuma outra versão a confirmação de que difícil de apanhar é um coxo?

À atenção dos serviços secretos ocidentais

Foi por um triz que João Carlos Espada, o guru do Zé Manel, não se cruzou com Obama:
    “Lamento não me ter cruzado com o Presidente Obama em Varsóvia, mas o planeamento da sua viagem não chegou a tempo ao meu conhecimento. Obama esteve em Londres antes de eu chegar e, quando eu cheguei a Londres, estava ele rumo a Varsóvia.”
Ele não revela no Público de hoje o que faria se encontrasse Obama. Mas o seguro morreu de velho.

PS — Ainda Espada em mais um inesquecível artigo no Público a reviver a história da Cinderela: “O bisneto de um cidadão do Quénia, que serviu como cozinheiro no Exército britânico, discursou como Presidente dos Estados Unidos perante o Parlamento britânico. Esta incrível história pessoal é a melhor expressão da civilização ocidental (…)”.

Se não for pedir de mais…

A propósito disto, alguém por favor explique ao Pedro Correia a diferença entre "medidas" e "objectivos", sim?

Acho que é como aquela distinção que se aprende na escola entre "meios" e "fins".
    Pedro T.

♪ Na hora de escolher, opte pelo melhor [9 - a confiança]

Cultura [3]

O presidente do Centro Cultural de Belém, António Mega Ferreira, e a directora da Casa Fernando Pessoa, Inês Pedrosa, defenderam hoje, num pequeno almoço de Sócrates com cerca de 100 individualidades da cultura, que a ideia do PSD de acabar com o Ministério da Cultura se integra numa visão "egoísta" da sociedade.

Na sua intervenção, António Mega Ferreira deu como exemplo de clara diferenciação entre os modelos socialista democrático e liberal a política fiscal: "Aceito pagar impostos para os outros por aquilo que ganho, mas a visão egoísta é que mesmo que ganhe muito não tenho nada que pagar pelos outros".

Retirado daqui

Cultura [2]

A Sociedade Portuguesa de Autores lançou uma petição contra o fim do Ministério da Cultura, a qual já recolheu mais de duas mil assinaturas.

Cultura [1]

    «Momento único a lembrar Visconti: numa récita do "Nabucco" de Verdi em Roma, antes do bis do "Va pensiero" exigido pela audiência, Riccardo Muti fala ao público e compara a pátria em perigo, cantada no coro, aos cortes que faz na cultura italiana o governo de Berlusconi (não mencionado pelo maestro mas implícito). Pede então algo inédito: que os espectadores cantem também. No palco os cantores terminam em lágrimas.»

domingo, maio 29, 2011

O cartomante da TVI


João Lopes, acutilante e divertido, põe a ridículo a conversa de café do pueril comentador dos domingos na TVI.

São Caetano, you have a problem

1. “No mesmo dia, Passos arroja-se aos pés de Cavaco e deixa-se espezinhar por Ferreira Leite. A predisposição deste homem para aguentar, ou preferir, ser humilhado começa a despertar um novo interesse acerca da sua pessoa.”

2. “Passos pega-se com uma mulher que o critica, e mostra, pelo verbo e pelo corpo, uma agressividade que arrisco dizer nunca antes vimos a candidatos políticos de pequenos partidos, quanto mais a um candidato a primeiro-ministro.”

Ler mais

A entrevista de Passos Coelho ao Expresso [6]

A páginas tantas da entrevista, Passos Coelho lembra-se de dar uma canelada ao Presidente da República, recordando que o europeísmo de Cavaco Silva foi uma coisa adquirida tardiamente, coincidindo mais ou menos com a chegada dos fundos comunitários que alimentaram o seu consulado: “O PSD, um pouco mais tarde, esteve do lado de todos aqueles que queriam colocar Portugal no centro da Europa.”

A entrevista de Passos Coelho ao Expresso [5]

O convite a Fernando Nobre foi para candidato a deputado ou a presidente da Assembleia da República? Entre Nobre, Passos e PSD, já se ou viu de tudo. Passos Coelho dá a versão definitiva: “Eu convidei o doutor Fernando Nobre para ser nosso candidato a presidente da Assembleia da República.” Coisa nunca vista na vida parlamentar, mas aconteceu.

A entrevista de Passos Coelho ao Expresso [4]

      Hoje há quem diga: o líder do PSD fala muito bem para as classes A e B, mas as classes C e D não o entendem. Quando eu apareci dentro do PSD, diziam: este homem, que fez o curso tardiamente, que esteve na JSD até demasiado tarde, que andou pelas empresas de maneira protegida, pode até trazer a militância do PSD, mas nunca conquistará as elites.

Este excerto da entrevista ajuda a perceber como funciona a cabeça de Passos Coelho: para além de constituir (e remodelar) governos pequenos (para não a sobrecarregar), o líder do PSD olha para os portugueses com os óculos do marketing: não há classes sociais, há as classes A, B, C e D. Tudo se resume ao “mercado”.

A entrevista de Passos Coelho ao Expresso [3]



        Expresso — O vosso programa vai mais longe.
        Passos Coelho — Vai muito para lá do programa da troika, é verdade...

Se dúvidas houvesse, Passos Coelho esclarece, referindo-se à troika na entrevista: “De certa maneira, o PSD ganhou um aliado para a mudança que é preciso fazer, que foi o programa de ajustamento.” Para a direita, as imposições dos credores estrangeiros aparecem como a oportunidade de romper com os laços sociais estabelecidos durante o regime democrático. Como se diz aqui, o que está em causa é saber se se quer “a esquerda a enfrentar a crise, se a direita a servir-se da crise.”

A entrevista de Passos Coelho ao Expresso [2]

O legado de Sá Carneiro atirado para o caixote do lixo


A social-democracia do PSD é hoje uma social-democracia actualizada para a sociedade que temos e não para a sociedade de há 30 anos, quando o PSD se inspirou nos modelos da social-democracia nórdica — Sá Carneiro em particular, tinha a visão de transformar Portugal numa espécie de Suécia do sul da Europa.” Perante esta afirmação de Passos Coelho, o Expresso conclui que “a tal social-democracia que o PSD ainda tem no nome” é “um resquício histórico.” Passos Coelho confirma: “É verdade.”

A entrevista de Passos Coelho ao Expresso [1]

A entrevista acaba por ser um bom retrato de Passos Coelho: ao longo de sete páginas, o líder do PSD é incapaz de um golpe de asa ou de uma ideia nova. Há umas caneladas (designadamente no CDS), há uns truques avulsos à Relvas, há referências a uma “estratégia nacional” nunca explicada e pouco mais. Mas o “pouco mais” ajuda a perceber o que Passos Coelho quer fazer ao país:

O PSD quer mudar o “regime económico em Portugal”



Diz Passos Coelho que o seu “governo tem uma oportunidade única, desde 1974, de mudar o regime económico em Portugal.” Até Ricardo Costa e Pedro Mexia, que conduzem a entrevista, estranharam a contra-revolução anunciada por Passos Coelho: “Há bocado utilizou uma expressão muito forte — ‘a mudança do regime económico’”. O líder do PSD não se retrai: “A mudança de regime económico que defendo, em coerência precisaria de uma revisão constitucional.

A palavra aos leitores

Comentário de um leitor a este post:
    'Em Portugal, todos percebemos, desde o início, que actual crise mundial é uma crise do liberalismo e do capitalismo desregrado. Ninguém se esqueceu que a crise começou nos estados unidos com a chamada crise do sub-prime (enorme teia de vigarices da ganância sem limites). E da sua origem, rapidamente se alastrou a todo o mundo, principalmente à europa onde atingiu com particular violência o seu sistema financeiro criando, posteriormente, um lastro de desconfiança que persiste dificultando a retoma.
    O único povo que percebeu, com assinalável lucidez, a presente crise e as suas causas, foi o povo português. Nos estados unidos e na europa em todas as eleições pós-crise (do sub-prime em 2008) os partidos que estavam no poder foram penalizados nas urnas de forma violenta e implacável (muitos partidos no poder foram completamente arrasados, como caso da Irlanda).
    Em Portugal fomos assistindo a esse espectáculo, primeiro com incredulidade e depois com espanto. Os portugueses, e bem, sempre acharam que havia muito de injustiça nesses resultados eleitorais, já que a crise mundial não podia ser culpa dos partidos que no momento estavam no poder desses países (independentemente de serem de direita ou de esquerda).
    E demonstrando a sua sábia percepção da realidade os portugueses sempre identificaram o liberalismo à solta como o único e exclusivo culpado da crise que a todos nos atinge. Os portugueses não só revelaram essa visão sábia como não estão dispostos a beneficiar o infractor. Por isso os portugueses, ao contrário dos outros, não prejudicam cegamente quem está no poder (beneficiando imprevisíveis investidas liberais). Os portugueses são sábios (séculos de história e cultura) por isso Sócrates pode aspirar a vencer no próximo domingo como já venceu em 2009 em plena crise. E se Sócrates insistisse mais no discurso pedagógico sobre a origem da crise e de quem quer apanhar a sua boleia para impor uma agenda ainda mais liberal poderia, e pode ainda, aspirar a uma vitória histórica.
    Há quem diga que se Sócrates vencer (e tem todas as possibilidades para o conseguir) que Portugal se torna num “study case”. Estou de acordo. Mas será um “study case” que nos vai deixar bem na fotografia porque vai revelar que os portugueses são sábios e justos.'

Nem é preciso tradução simultânea

    "O PSD vai salvar o Estado social, vai salvar o SNS de mãos dadas com as misericórdias, com as IPSS e com os privados", diz Aguiar Branco.

Ainda que mal pergunte… [36]

A substituição do programa do PSD para a Educação por outro, prometida por Passos Coelho, vai ser feita antes das eleições legislativas?

Viagens na Minha Terra

♪ Na hora de escolher, opte pelo melhor [8 - e porque hoje é domingo, a elegância]

Diário Popular

David Dinis, antigo assessor de Barroso, pediu a demissão de editor de política do Diário de Notícias há um bom par de meses. A secção de política ficou em roda livre, como se pode ver no jogo das setinhas aos sábados, um coisa aviltante para um jornal que se quer de referência: um pobre diabo tem a maqueta feita com as fotografias e trata apenas de preencher os espaços em branco que lhe soletram.

Só vejo uma razão para que a direcção do DN deixe continuar à deriva a secção de política. Deitando mão a um método inovador, Marcelino está serenamente a aguardar pelos resultados eleitorais para então fazer a sua escolha. O (e)leitor decidirá no próximo fim-de-semana, creio eu.

Educado, equilibrado e cordato?

Andam-nos há meses a vender Passos Coelho como um homem educado, equilibrado e cordato. A forma como respondeu a críticas de uma aluna das Novas Oportunidades e de uma feirante de Pevidém mostra um líder de cabeça perdida quando é criticado.

Mas há mais. Lê-se hoje no DN [p. 8] que, em Celorico, terra da avó Joaquina do ilustre Prof. Marcelo, um homem se abeirou de Passos Coelho e lhe apelou: “Malhe neles, malhe neles!” Quando se esperaria que o líder do PSD fizesse a pedagogia da democracia, eis que a sua resposta foi esta: “E não cai nenhuma ao chão.”

O que seria se ganhassem as eleições

Primeiro, foi Miguel Relvas: não encontrou melhor forma de calar as incómodas perguntas de Cláudia Sebastião, jornalista da TVI, do que lhe dar um empurrão.

Ontem, aconteceu em Braga. O PSD decidiu provocar o PS, tendo feito uma arruada que desembocou no local aonde se ia realizar um comício socialista. Depois de terem aterrorizado crianças que estavam numa festa organizada pelo Município de Braga, provocaram as pessoas que se dirigiam para o comício. Jornalistas da TVI e do i, que relatavam os incidentes, foram ameaçadas.

Não, não é mau perder. Eles são mesmo assim


Passos Coelho é um menino de coro perante o que se passa nos bastidores. Se o PSD ganhasse as eleições, Passos e Portugal iriam sofrer muito às mãos deste ódio.

Manipulação? Querem ver o que é manipulação? [2]

No Telejornal de ontem, da RTP, a reportagem mostra Passos a lidar com uma situação difícil. E a sair-se bem:



Para percebermos bem o que se passou - e ver Passos a "passar-se dos carretos" com uma enorme facilidade - temos que ver a cena numa televisão local:

sábado, maio 28, 2011

Um mundo de povo

Manipulação? Querem ver o que é manipulação?

Manipulação é, às 8 da noite, a SIC dizer que o futebolista Fábio Coentrão esteve com José Sócrates, mas não ter dito em quem vai votar:


E isto é manipulação porque, às 13 horas, a mesma SIC tinha emitido declarações de Fábio Coentrão, após o encontro com José Sócrates, nas quais garante que vai votar PS:


Resta uma dúvida: que administrador ou director da SIC passou (ou telefonou) pela redacção entre o noticiário das 13 e o das 20?

Um (des)governo

O Miguel já registou a cambalhota do dia: afinal, o "governo de Passos Coelho" tanto pode ter dez ministros, como mais meia dúzia.
No entanto, vale a pena assistir à cambalhota ao vivo e verificar que ela é envolta em assinaláveis flics-flacs:


1. Mesmo que o governo tenha 10 ministros, continuará a ter mais ministérios. Ou seja, a ideia do governo pequeno é totalmente demagógica e populista - só se poupa no número de ministros, já que as máquinas dos ministérios ficarão na mesma. Os ministros serão, assim, itinerantes, governando um ministério de manhã e outro de tarde.

2. É claro que a ideia dos 10 ministros só funciona se o PSD tiver maioria absoluta. Caso contrário, é necessário negociar. E, talvez (quem sabe?), termos um governo do
PSD e um governo do CDS a funcionarem em simultâneo.
Em suma - tudo isto é maus de mais para ser verdade.

Este é o nosso programa, mas, se não gostarem, arranjamos outro






Passos Coelho não perdeu tempo a reagir ao recado enviado por Cavaco através do Expresso. O líder laranja admitiu de imediato que, se ganhasse as eleições, o governo a formar poderia ter mais de dez ministros. Menino bem comportado, sempre disposto, até 5 de Junho, a mudar de opinião (aqui e aqui).

Este arquitecto é de partir o côco

O pequeno grande arquitecto, na sua sempre hilariante crónica na revista Tabu (certamente inspirada num célebre - e foleiro - perfume da década de 70), debruçava-se ontem sobre "a máquina de propaganda".
Entre as várias alucinações (a uma média superior a uma por parágrafo), deixamos aqui três das mais hilariantes: a amizade de Sócrates com os grandes grupos de media, o facto de o PS ter por estranho hábito interagir com os partidos da oposição e... o CC:
Leiam, que não vão dar o vosso tempo por perdido:

A impreparação dos estarolas do PSD: uma bomba que pode rebentar nas mãos de Cavaco


Hoje no Expresso


Cavaco manda dizer, através do Expresso, que está muito preocupado com a redução (ou agregação, como agora é dito) do número de ministérios defendida pelo PSD, porque:
    • Os prazos que constam do acordo com a troika não se compadecem com diletantes reestruturações da orgânica do Governo; e
    • A constante ida de ministros a Bruxelas obrigaria, com a redução dos ministérios, a que alguns deles fossem forçados a passar a viver na sede da União Europeia.
Cavaco percebeu que estas reengenharias administrativas com que os estarolas da São Caetano se entretêm podem rebentar na suas mãos. Por isso, tira o tapete a Passos Coelho.

♪ Na hora de escolher, opte pelo melhor [7- a genialidade]


All Delighted People

O momento em que estalou o verniz a Passos Coelho




Mais tarde ou mais cedo, tinha de acontecer. Em Vila Real, o “menino da terra” foi abordado por uma jovem que lhe queria agradecer em seu nome e das colegas que frequentam as Novas Oportunidades ter-lhes chamado ignorantes: “Queria só agradecer-lhe ter-me chamado ignorante. Estou a frequentar um curso EFA (Novas Oportunidades) e sou a melhor aluna da minha turma”.

Confrontado olhos nos olhos, Passos Coelho vacilou, gaguejou e calou-se por momentos. Depois, reagiu em tom cínico e desafiador, já quando a jovem lhe tinha voltado as costas: “Espero que o seu curso lhe sirva para muito, está bem?” Ele diz que quer ser primeiro-ministro.

Blogue de apoio ao PS

"PSD quer transformar SNS num serviço nacional para pobres"

    (…) é bom que saibamos o que o PSD quer fazer na saúde. O PSD quer limitar os cuidados que o SNS presta aos cidadãos (...) a proposta do PSD é transformar o SNS num cabaz básico de cuidados para pobres. O PSD quer transformar o SNS num serviço nacional para pobres e canalizar o dinheiro dos nossos impostos para financiar em pé de igualdade o sector privado.
      Ana Jorge, ministra da Saúde, ontem em Coimbra

Fábio Coentrão: "O meu partido sempre foi o PS e vai continuar a ser"


sexta-feira, maio 27, 2011

O PSD em campanha: um dia ao acaso


Deixaram o candidato a presidente do Parlamento falar e…

Realizou-se hoje um debate entre os cabeças de lista pelo distrito de Lisboa. Eduardo Ferro Rodrigues esteve presente, assim como Teresa Caeiro, Luís Fazenda e Bernardino Soares. Fernando Nobre não compareceu.

O candidato a presidente da Assembleia da República foi, entretanto, encontrado a fazer campanha no Hospital D. Estefânia, insurgindo-se contra a transferência do serviço de partos para a Maternidade Alfredo da Costa. Ainda ninguém teve a gentileza de informar Fernando Nobre de que o programa eleitoral do PSD propõe a concentração dos serviços de partos.

A palavra aos leitores

De um email enviado pela leitora Amélia D.:
    ‘Jorge Moreira da Silva é membro da Comissão Política e vice-presidente do PSD. Jorge Moreira da Silva tem um currículo (invejável, por sinal) e é já um nome consagrado, em termos internacionais, no que diz respeito às políticas de energia e clima. Jorge Moreira da Silva foi relator permanente do Parlamento Europeu para as alterações climáticas. Jorge Moreira da Silva foi consultor da Presidência da República para a ciência, ambiente e energia. Jorge Moreira da Silva abandonou a Presidência da República para ocupar um lugar de prestígio como consultor do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento na área da energia e das alterações climáticas. Jorge Moreira da Silva tem dado a cara pela luta contra o aquecimento global e pela produção de energia a partir de fontes renováveis.

    Assim sendo, o que terá Jorge Moreira da Silva a dizer do programa eleitoral do PSD, que prevê pôr um travão no desenvolvimento das energias renováveis e renegociar em baixa os nossos objectivos de redução de gases com efeito de estufa?

    E, já agora, o que terá Carlos Pimenta a dizer?

    Alguém se importa de perguntar?’

José António & José António em estado de negação

Quem tivesse passado hoje por uma estação de serviço (e folheasse, de ponta a ponta, o luminoso Sol) ficava convencido de que o semanário do pequeno grande arquitecto é concebido numas catacumbas sem nenhuma ligação com o mundo exterior. Muito embora Santana Lopes — que, como se sabe, anda por aí — tivesse lá escrito que há “sondagens de ‘sabores’ variados”, passei o dia convencido, depois de ler o que li, de que só faltava dar posse a Passos Coelho. Qual não é a minha surpresa ao fim do dia quando soube, através do Público, que o presidente do PSD, que já ia a caminho de Belém, tinha sido mandado regressar à São Caetano.

PS — Perdi esperança de que Luciano Alvarez compreenda a diferença entre percentagens e pontos percentuais. Na secção de desporto era tudo mais fácil: três pontos para a vitória, um pelo empate e zero pela derrota.

A enorme fragilidade da liderança de Passos Coelho



Ontem, na Quadratura do Círculo


Estas são as minhas convicções, mas, se não gostarem, arranjo outras (e conto tudo ao contrário)




Ontem, ao ler as declarações de Passos Coelho no site da RR, já tinha ficado com a sensação de que, para além da mudança de posição do líder do PSD quanto à questão do aborto, ele contava também uma história diferente para justificar a mudança de posição:
    ‘o actual líder social-democrata não esteve a favor da última alteração da lei, porque “hoje em dia é muito fácil as pessoas poderem evitar esse tipo de situações, desde que o Estado e a sociedade dêem a informação necessária às pessoas”. E Passos continua: “A ideia que eu tinha era que talvez se pudesse cair numa espécie de liberalização, em que muitas das mulheres que se vêem confrontadas com essa necessidade acabam por se confrontar com problemas ainda mais graves do que aqueles que motivaram a sua decisão drástica de pôr fim a uma gravidez”.’

A Shyznogud terá provavelmente ficado com as mesmas dúvidas que eu. Só que foi à fonte — à própria entrevista de Passos Coelho à RR — e mostra como a bota não bate com a perdigota:
    ‘O que o senhor diz aqui é claro como água: esteve, há muitos anos (e 2007 foi há 4, não há muitos), do lado daqueles que achavam que era preciso legalizar o aborto para situações excepcionais (como a violação e a malformação fetal, por exemplo?) mas que não defendeu a última alteração da lei, ou seja, aquela que permite o aborto legar por decisão da mulher até às 10 semanas. Tudo bem, a cada um suas convicções e voto. Saber como é que estas afirmações (e o que está acima é discurso directo) se conjugam com o afirmado hoje ao i - "votei pelo sim" - é que me deixa intrigada.’

Em suma: Passos diz ter votado “sim” no referendo, mas diz também que sempre esteve em desacordo com “esta última alteração”, ou seja, com a lei que resultou da aprovação do referendo. Isto é incongruente.

Por outras palavras, Passos Coelho não apenas mudou de posição quanto à questão do aborto como também conta uma história diferente (e, por azar, inverosímil) para justificar a sua mudança de posição. Se tivesse sido apanhado a mentir nos Estados Unidos, já teria sido forçado a demitir-se.

O pass(ad)ismo

        ‘Não gostei de ler no Público que Pedro Passos Coelho é liberal nos costumes. Não gostei e espero que seja só para não criar anticorpos na comunicação social, até às eleições.’
Esqueçamos o diagnóstico que a jornalista faz da própria comunicação social. Centrando-nos em Passos Coelho, parece que a Maria Teixeira Alves começou a ler jornais muito recentemente. É que, em 2008, o agora líder do PSD considerava-se um homem desempoeirado que se mostrava favorável à:
    • Adopção por casais homossexuais;
    • Despenalização do aborto; e
    • Liberalização das drogas.
Acresce que Passou Coelho atacou o Presidente da República por causa do veto à lei do divórcio de Sócrates, considerando ainda que “a idealizada família tradicional não é um dogma - existem várias famílias”.

Espero que a Maria não tenha sucumbido à leitura destas proezas do líder laranja. Como deve saber, Passos Coelho já está a preparar o caminho para que as mulheres que interrompam a gravidez possam ser condenadas e, quanto ao resto, dirá o que for preciso para satisfazer o eleitorado de direita. Como a Maria diz, o liberalismo de Passos nos costumes é só para eleitor ver (“para não criar anticorpos”). Depois é que serão elas…

É engraçado - já quando era director do 'Público' tinha os comunistas (e bloquistas) como aliados idiotas, perdão, tácitos


[Ver aqui o que foi a "manifestação anti-CDU de Coimbra".]

Uma das portas de entrada no pote



aqui tinha falado da solução “indolor” para reduzir o contributo do patronato para a segurança social (a tal TSU): ir-se ao baú da segurança social, dando cabo das pensões de reforma dos portugueses. Óscar Gaspar escreve hoje um excelente artigo no Diário Económico, no qual desmonta o que está em causa: O plano secreto da direita para a Segurança Social. E ao recuperar um o projecto de lei (nº 326/X) apresentado pelo PSD em 2007, põe em evidência que a campanha lançada em três frentes por Bagão, na passada quarta-feira em 2007, não é um acto isolado, antes faz parte da estratégia da direita para rebenter com a segurança social pública.

Eis um excerto do artigo, sugerindo-se no entanto que seja lido na íntegra:
    'Só com a entrevista do Dr. Bagão Félix ao Diário Económico se fez luz. O relevante não é baixar ou não baixar a TSU. Na verdade, o que está na base da proposta da Direita para a TSU é (mais uma tentativa de) um ataque à segurança social pública.

    Registe-se que a direita portuguesa nunca mostrou um grande entusiasmo pela segurança social pública. É conhecido o seu reiterado incumprimento das transferências para o Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social.

    Já o compromisso dos governos socialistas sempre foi o cumprimento da Lei de Bases da Segurança Social. Com isso foi possível poupar em fundo específico da segurança social um valor próximo dos 9.000 milhões de euros. Pois agora pretende a direita delapidar essa poupança para reduzir os encargos das empresas. Para fechar o círculo só falta a Direita vir dizer daqui a cinco anos que o Fundo já não tem dinheiro e que a solução certa para a segurança social é o plafonamento e as companhias de seguros...

    Nesta história da cigarra e da formiga é Bagão Félix que desvenda o que está verdadeiramente em causa nesta discussão sobre a TSU. Confessa agora ao Diário Económico que o Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social pode financiar o corte da TSU. Ou seja, afinal já não é preciso hostilizar os produtores de vinho, nem indispor as empresas grandes consumidoras de electricidade, nem alarmar nenhum eleitor: faz-se de conta que se tem uma solução indolor (o dinheiro já lá está, foi poupado, não é preciso cobrá-lo a ninguém!).

    (…)

    A entrevista do Bagão Félix remeteu-nos agora para estratégia global. Fui reler o projecto de Lei nº 326/X, do PSD, apresentado em 2007 e lá está, preto no branco: "Do ponto de vista do PSD, a solução mais adequada para assegurar o financiamento do período de transição é o recurso ao Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social". Ou seja, o que aqui se retoma, de facto, é o projecto de privatizar o sistema de pensões.

    Que interesse tem a sustentabilidade ou solidariedade intergeracional quando se pode ir ao pote? Visão de curto prazo? Não. A aparente miopia financeira é apenas um sintoma de uma apurada perspectiva para o que lhes interessa. Esta direita sabe-a toda.'

"Não é todos os dias que deparamos com alguém que renega assim, com tal facilidade, tudo aquilo em que diz acreditar"

• Fernanda Câncio, Mesmo mesmo invulgar:
    ‘Passos Coelho surpreendeu toda a gente - quiçá ele próprio? - ao apelar ontem, numa entrevista à rádio católica, a "grupos de cidadãos" para tomarem "tão rápido quanto possível" iniciativas no sentido de exigir um referendo sobre a interrupção da gravidez, concluindo: "Não veria impossível que se voltasse a realizar um referendo sobre essa matéria." Afiançam-nos desde então que "só disse" que "é preciso melhorar e avaliar a lei". Mas o que esteve em causa nos dois referendos sobre a matéria, em 2007 e 1998, foi alterar o Código Penal, que criminalizava o aborto por decisão da mulher, e possibilitá-lo em estabelecimentos legais de saúde. E como as únicas iniciativas de referendo surgidas desde a alteração da lei visam a repetição da mesma pergunta, "os cidadãos" que Passos incitou a voltar à carga só podem ser os que querem que o aborto seja crime.’

IVG

1. A Associação Médicos Pela Escolha já emitiu um comunicado após as declarações de Passos Coelho a admitir a convocação de um referendo: “Uma lei que salva vidas de mulheres”.

2. O médico Miguel Oliveira e Silva, presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, já desmentiu Paulo Portas, que tinha dito que este médico se mostrara contrário à actual lei da interrupção voluntária da gravidez: “nunca defendi um recuar a antes de 2007” [Público, p. 2].

Manobra manhosa para desviar as atenções

A abertura de Passos Coelho à realização de um novo referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez revela que o PSD pretende dar uma violenta guinada à direita não apenas no plano económico-social, mas também no plano dos costumes.

Por isso, os incidentes ocorridos, num comício do PS em Faro, não podem ser dissociados das dificuldades por que passa Passos Coelho com o seu programa oculto. Esses incidentes têm todos os ingredientes para terem sido uma provocação calculada, a fim de desviar as atenções da mais recente posição de Passos Coelho em relação à criminalização das mulheres que façam um aborto.

Os “manifestantes” não foram contestar a introdução de portagens na Via do Infante. Foram apenas provocar desacatos por se tratar de um comício do PS (e para isso até levavam cartazes). Como um dos intervenientes disse momentos antes do início das provocações: “sou apoiante de Passos Coelho”. E é este mesmo Passos Coelho que “lamenta” os incidentes, mas não os condena.

♪ Na hora de escolher, opte pelo melhor [6 - a autenticidade]


Key to the Highway

O que se passou em Faro


[A partir do Público online]

Depois da Maya, PSD contrata novo astrólogo para a campanha


[Aqui.]

A profecia do Professor Karamba, perdão, Marcelo, está a deixar nervosos os estarolas da São Caetano, conhecidas que são as traquinices de linguagem do famoso astrólogo.

Da série "Frases que impõem respeito" [616]


Isso foi de manhã, não foi? Eu não sei se à hora do almoço o Dr. Passos Coelho não estará já a corrigir o seu ponto de vista.
      Louçã, questionado pelos jornalistas sobre a posição de Passos Coelho de rever a lei do aborto

Estas são as minhas convicções, mas, se não gostarem, arranjo outras




"Se houvessem cidadãos portugueses
que quisessem propor a realização de um referendo"

Quando "o caso" se torna em "tiro no pé" (*)

Perguntava Passos Coelho, em Mirandela, à laia de revista de Parque Mayer:
Então diga lá, engenheiro José Sócrates, quem foi o feliz contemplado no concurso de um milhão de euros para [e aqui Passos enganava-se de propósito e até pedia os óculos, para tornar a coisa mais engraçada - um galhofeiro, este rapaz].

Fácil, respondeu o governo:

Esta Universidade [Católica] faz este mesmo trabalho desde 1993 e o que está em causa é a contratação de cerca de 60 juristas para trabalharem em permanência para, entre outras coisas, instruírem 50 mil processos por mês de contra-ordenações do Código da Estrada”, sublinha o governante. Vasco Franco diz que no concurso deste ano até foi possível poupar 25% face aos anos anteriores, e assume que a ideia é mesmo recorrer a serviços externos, em vez de contratar juristas para a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária.

(*) uma fita com pilhéria em exibição diária na campanha do PSD.

quinta-feira, maio 26, 2011

Viagens na Minha Terra

O Marcelo dos pequeninos



Era a favor da despenalização do aborto? Sim.
Mas concorda com a lei que despenalizou o aborto? Não.
Acha que essa lei deve ser avaliada? Sim.
Então admite rever a lei? Não.
E se alguém tomar a iniciativa de rever a lei? Então, sim.
Vai propor um novo referendo? Não.
E se alguém o propuser? Então, sim.

A ignorância pode ser suprida com estudo

Passos Coelho quer preceder um novo referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez de uma avaliação dos efeitos da lei em vigor. O impreparado líder do PSD não sabe que essa avaliação é feita e, mais, que está disponível à distância de um click no site da Direcção Geral de Saúde: Toca a estudar, Dr. Passos Coelho.

Pergunta aos meus companheiros de luta



Helena Matos e Carlos Abreu Amorim fizeram parte — tal como eu e muitas outras pessoas — do blogue Sim no Referendo. Depois das inaceitáveis declarações de Pedro Passos Coelho à Rádio Renascença, em que abriu as portas a um novo referendo sobre o direito à interrupção voluntária da gravidez, Helena Matos e Carlos Abreu Amorim mantêm-se num silêncio ensurdecedor. Terão também mudado de convicções como Passos Coelho?

Há mudanças que os eleitores não perdoam

Pedro Passos Coelho distinguiu-se por ter chegado à liderança do PSD recusando a agenda socialmente conservadora que a tinha caracterizado desde há muitos anos. Defendeu a lei que descriminalizou a IVG, defendeu a adopção por casais homossexuais, a liberalização das drogas e apoiou a lei do divórcio, vetada por Cavaco Silva na legislatura passada.

Hoje, num movimento de ginástica artística inesperado, Passos Coelho veio dizer que admite voltar a fazer um referendo sobre a lei do aborto. Há contradições que se pagam caro e esta, estou em crer, custará muito a Passos Coelho.

A contradição é uma inevitabilidade da política, se a entendermos como a necessidade que, muitas vezes, as ideias apresentadas num determinado momento (nomeadamente a sufrágio) terem de se adaptar às circunstâncias, muitas vezes novas.

Mas esta mudança de posição não radica em qualquer necessidade de adaptação à realidade ou alteração das suas circunstâncias. Radica, isso sim, no mais puro oportunismo político, apenas compreendido pela vontade de evitar a fuga de eleitores do PSD para a sua direita que as sondagens parecem mostrar.

Acontece que os eleitores, preferindo naturalmente que os políticos concordem com as suas posições, não são insensíveis às razões que os levam a mudar de posição. Veja-se o recente exemplo de Merkel na Alemanha, que foi fortemente penalizada nas urnas quando, cavalgando o receio do nuclear motivado pelo desastre de Fukushima, veio a suspender o prolongamento do funcionamento das centrais nucleares. Mesmo os que concordavam com a medida, interpretaram este gesto como puro oportunismo.

Pense-se que é em temas como este do aborto que se admite que os deputados tenham liberdade de voto (por se considerar uma questão de liberdade de consciência), por se considerarem questões estruturantes da personalidade de uma pessoa.

Com este volte face (que até a mim surpreendeu), Pedro Passos Coelho mostrou que está disposto a tudo para tentar ganhar estas eleições, mesmo mudar em matérias que deviam constituir a coluna vertebral do seu pensamento político.
    Paulo F.

Quem defende o Estado social?

Pedro Passos Coelho anda a ver se o seu numerozinho hipócrita de preocupação com o Estado social passa. Há uns meses bradava contra a sua insustentabilidade; hoje, acusa o governo de o andar a destruir.

Ora vamos lá ver em números o dito “ataque”. Até 2007, os base de despesas sociais públicas da OCDE. Os de 2008 e 2009 são construídos a partir da despesa social pública em segurança social e em saúde (incluindo os subsistemas públicos de pensões (CGA) e despesas de saúde (ADSE)) disponíveis no Pordata.

Despesa social pública em Portugal (2000-2009)

Como se pode ver, as despesas sociais com segurança social e saúde aumentaram o seu peso no PIB em 2008 e 2009 (para 2010 todos os dados necessários não estão disponíveis, mas o valor não deve ser muito diferente de 2009) para valores historicamente nunca vistos. Mesmo que o crescimento dos valores da despesa fosse expectável, por efeito dos estabilizadores automáticos – e não o resultado de uma qualquer “derrapagem” na despesa -, nenhum governo pode ficar indiferente a esta escalada. A lei da Condição de Recursos implementada há uns meses foi a resposta do governo a esta situação. Concorde-se ou não com o impacto que a lei teve em cada uma das prestações sociais, esta foi a forma possível para fazer face ao aumento nunca visto das despesas sociais em Portugal.

Qualquer conversa sobre um suposto “ataque ao Estado social” que ignore estes números é oportunismo indecente, muito próprio da “política de verdade” a que o PSD já nos habituou.
    Pedro T.

Todos à Quadratura do Círculo, hoje às 23 horas

Mais rápido que a própria sombra

Se Passos queria estancar a sangria de votos à direita com a história do aborto, Portas tratou já de pôr tudo em pratos limpos: esse terreno é nosso, e se há que avaliar, referendar, ou seja o que for, nós chegámos primeiro:
Paulo Portas diz que reavaliação da lei do aborto é "evidência que se impõe” .

Uma falsa questão

Há um ano, no jornal i, olhando para os costumes, Ana Sá Lopes perguntava: Pedro é fixe ou fracturante?
Hoje, teve a resposta: é um iô-iô.

Interrrupção voluntária do bom senso


Entre as declarações da manhã e as da tarde de Passos Coelho sobre a realização de um novo referendo acerca da interrupção voluntária da gravidez não há, de facto, grandes diferenças. EXCEPTO que, de manhã, Passaos lançava um "alerta" aos que pretendem um novo referendo que "tomem a iniciativa, tão rápido quanto possível".


A declaração da tarde contém, ainda, uma espantosa definição de democracia: para Passos Coelho, todos aqueles que defenderam posições no último referendo - presume-se que esteja a falar do campo do "sim" - não exerceram um direito, "colaram-se". Um espanto.

Ponto de situação


João Pedro Henriques escreveu, a secção laranja do DN deixou passar e o CC faz serviço público, levando a mensagem a mais leitores que aqueles lêem o DN - Passos Coelho já começou a escrever o discurso da noite eleitoral.

Uma bizarra xenofobia


[ Público, 26 Maio 11]

Ao contrário de outros órgãos de informação, o Público decidiu não fazer cobertura directa da deslocação de José Sócrates ao Açores em campanha eleitoral, visto que se socorre de um texto da Lusa para o efeito.
O leitor menos avisado pensaria que tal se deve a restrições económicas. Não há dinheiro, não há... jornalistas.
Mas não. A jornalista São José Almeida, na apreciação que faz do dia de ontem na campanha eleitoral, dá a pior nota a José Sócrates, simplesmente porque... foi aos Açores.
Um jornalismo estranho, xenófobo.

“Tendo a ter a mesma opinião do eng José Sócrates”: “julgo que não se devia ter inviabilizado o PEC IV”

Entrevista de José Maria Ricciardi ao Diário Económico:
    A maior parte dos portugueses não relaciona a ajuda da ‘troika' com o facto de o PEC IV ter sido chumbado. José Sócrates insiste porém nisso: se o PEC IV não tivesse sido chumbado não haveria necessidade de recorrer a auxílio externo. Onde se situa?
    Muitas vezes concordo com o líder A ou com o líder B, independentemente de serem mais a esquerda ou mais a direita. Embora com algumas nuances, tendo a ter a mesma opinião do eng. José Sócrates. As minhas razões são técnicas e não políticas e nem sequer digo que se o PEC IV tivesse sido viabilizado não chegaríamos ao PEC V! O que sucede é que os alemães, bem como uma parte importante dos outros países, preocupados com o risco do contágio da má situação dos países periféricos - veja-se a evolução da Grécia e da Irlanda! - tinham aberto a oportunidade de outra ajuda, a dita flexibilização do Fundo. Ninguém negou que fosse uma ajuda mas era mais mitigada, havia a chance de um auxílio um pouco diferente. O medo do contágio abrira essa possibilidade. E a maior diferença para a situação actual é que os mercados continuariam, eventualmente, abertos. Com taxas altas, mas abertos. O facto de termos inviabilizado isso precipitou um corte sucessivo dos ‘ratings' da República e dos bancos e houve o pedido de assistência financeira. Ninguém de boa fé pode afirmar que a viabilização do PEC IV impediria a ‘troika' em Portugal, mas ganhar-se-ia algum tempo. E na crise que estamos a viver na Europa e no mundo, ganhar algum tempo poderia ser positivo.

    Entendido: se dependesse de si não teria havido crise política em Portugal?
    O grande marco é o da demissão do Governo e - não querendo fazer política porque não sou político - costumo dar o exemplo da Espanha que optou por não ir por esse caminho. Sim, julgo que não se devia ter inviabilizado o PEC IV.