quinta-feira, agosto 16, 2012

“J'ai commis l'erreur d'accepter ce job politique”


Há dias, perguntava eu o que era feito de Francisco José Viegas, o alegado secretário de Estado da Cultura. No news, good news: ele está vivo, e bem vivo, aparentemente com a cabeça em França para promover os seus policiais.

A edição de amanhã do diário Le Monde (p. 12) traz uma extensa reportagem a propósito das peripécias de Jaime Ramos, “un flic mélancolique qui approche de la cinquantaine et vit à Porto”, e Filipe Castanheira, “un autre flic, sacrément amoureux, qui habite à Ponta Delgada”, na verdade um pinga-amor à moda antiga: “Il y a eu des femmes blondes dans ma vie, des blondes intimidées et qui m'oppressaient, et des rousses, surtout des rousses, qui feignaient l'orgasme, et des brunes qui s'endormaient doucement et en chacune d'elles il y avait un secret que je n'ai jamais connu, car il y avait ces sexes charnus, humides, mouillés, fiévreux, blessés, tristes, euphoriques, mortifiés, étudiés, spontanés, sans destin, qui sentaient le parfum ou le sel, compacts, transparents et magnifiques, succulents comme un fruit, libres, difficiles, intenses, tourmentés, pauvres, oubliés, ignorés, affamés, compatissants, ternes, affables, doux, rageurs, lubriques, avides, souillés, repentis, frais, froids, admirables, irrités, prodigieux de chaleur et de courage, tranquilles comme les baies recueillies d'une île...”

Deixando em paz o Ramos e o Castanheira, fica-se a saber que Viegas não é um “liberal à moda antiga” de longa data: após a “révolution des oeillets”, experimentou «un temps au militantisme en flirtant avec la tendance trotskiste du Parti socialiste portugais. "On parlait de sexe et de cannabis”.»

Ultrapassada aparentemente a ressaca, Viegas mostrou-se atento à evolução do país: “En dix ans, nous avons réalisé toutes les réformes demandées par l'Europe (l'avortement, le mariage homosexuel). Ce fut sans doute bien rapide, car parallèlement, notre économie n'a pas bénéficié de bases solides.” E, contrariamente ao que sugeria no seu “cantinho do hooligan”, ele parece compreender que a crise não se deve a Sócrates: “Nous sommes très dépendants des situations espagnole, grecque, irlandaise. Nous avons perdu notre agriculture, notre pêche et notre industrie comptent à peine. Seules nous restent notre culture et la mer comme offre touristique”.

É neste quadro que Viegas decidiu agir: “Lorsque votre pays traverse une crise terrible, écrire dans les journaux ou les blogs ce que doit être la culture ou la société, comment sortir le cinéma du marasme ou sauver les bibliothèques, cela ne suffit plus... Du coup, moi l'éditeur heureux, l'écrivain sans souci, j'ai commis l'erreur d'accepter ce job politique.” Ou por outras palavras: «J'appartiens à une génération qui, à un moment donné, doit répondre "oui"

Dado o “oui”, Viegas inexplicavelmente desapareceu — e ainda continuamos, por isso, sem saber “ce que doit être la culture ou la société, comment sortir le cinéma du marasme ou sauver les bibliothèques”. Na reportagem, o secretário de Estado da Cultura preferiu dar palco a Jaime Ramos e a Filipe Castanheira do que discorrer sobre o seu “job politique”. Talvez porque, como referiu, “Le Portugal ne rêve plus”. Pudera.

6 comentários :

ana maria simões disse...

meu querido Miguel Abrantes, penso que chegou o dia em que eu admito, publicamente (quase), que não posso viver sem este blogue. Carinhosamente... AMS

james disse...

Este Viegas parece o Manuel Luís Goucha da Literatura.

Miguel Abrantes disse...

Ana, não precisava de se expor.
Obrigado

Anónimo disse...

depois de algumas hesitações FJV voltou... a blogar. Parece que, assim como assim, já deu cabo da cultura e, portanto, já tem mais tempo livre para voltar a ser o que sempre foi.

Anónimo disse...

por quem trabalhar, desde muito jovem e toda a vida trabalhou - é ultrajada por garotos que nada fizeram.

dignidade precisa.se.

Nota:- uma empresa, que não dá dignidade ao seus trabalhadores, não merece existir e não existe...quanto mais um governo -

isto aplica-se a todas as empresas e a todo e qualquer governo.

Acho que esta rapaziada deu uma "basucada" na cabeça...perderam o tino


Nem mais um hora - cada minuto que passa, custa-nos 1 milhão.

São maus, porcos, não tomam banho e não querem ser tosquiados.

Tirem-me essa garatoda daqui - se vamos esperar 2018 - adeus ó vindima.

O PS está à espera de quê? - isto é preocupante e deprimente - ninguém dá um murro na mesa?

Santo Deus, misericordia com quem tem feito tão mal ao País.

Em 2013 estamos a "bater" os 20% da força de trabalho, ou seja, mais desemprego a viver de sopas cavalo cansado e do trabalho à jorna

Mas o que fizeram de mal os trabalhadores Portugueses o que outros não fizeram?

Lá fora dão dignidade e o devido respeito a quem trabalha.

Cá, dão dignidade a quem usa off shore, quem é... nada serio

Cá, no portugaleco, é o que sabe, mandam bitaites uns ao outros - como se País pudesse viver num Pais com "bocas" entra os orgãos de soberania.

O País não pode viver na permanente conflitualidade entre orgãos de soberania,,,a continuar, prevejo o pior para os filhos e netos de Portugal.

Só descurtino a hipotese de ir para eleições, para o Governo e para Presidencia da Republica.

É a escolha acertada em 99,9% de probalidade.

OS trabalhadores PORTUGUESES merecem a minha estima, consideração e respeito.

Por Portugal

Rosa disse...



Perfeito, Miguel! E eu que até simpatizo com estes polícias saídos da imaginação do FJV...cada um deve fazer o que sabe...e não o que mais lhe convém...terei de comprar o Le Monde com mais assiduidade.