segunda-feira, setembro 03, 2012

Rendas excessivas? E de quem é a culpa, afinal?


No final da semana passada, o Governo anunciou, com pompa e circunstância, que tinha chegado a acordo com 70% dos promotores eólicos para efetuar um corte de 140 milhões de Euros nas suas receitas. O que não deixa de ser curioso, porque já em Maio passado o Álvaro tinha dado uma conferência de imprensa após o Conselho de Ministros a anunciar esses cortes. Quando toda a gente pensava que eles já estavam feitos e que tinham sido solenemente decretados em Conselho de Ministros, eis que se descobre – três meses depois – que afinal tinham sido só anunciados à pressa, para iludir a troika nas vésperas da sua 4ª avaliação, mas não concretizados.

Parte dos cortes anunciados em Maio, aliás, tinham a ver com o regime de garantia de potência, que o Governo se apressou a revogar, através de uma portaria. Mais uma vez, show-off para a troika ver. Três meses depois, o Governo aprovou nova portaria, a re-conceder incentivos à garantia de potência.

Mas centremo-nos agora no recente anúncio dos cortes na energia eólica. Porque, como sempre, o diabo está nos pormenores.

Vai-se a ver e os cortes só abrangem os contratos assinados até 2005. E porquê? Porque “são os que saem mais caros aos contribuintes”. Assim, de uma penada, o Governo reconhece que toda a sua campanha anti-renováveis e, sobretudo, anti-Sócrates não passa de mistificação propagandística e desonesta manipulação.

A verdade é que as eólicas mais caras e que mais pesam na tarifa são as anteriores aos Governos Sócrates. E que, a partir de 2005, o custo da energia eólica passou a ser significativamente mais baixo. Tanto que o atual Governo não vê necessidade de rever a remuneração atribuída às centrais eólicas de 2005 a esta parte.

Segundo o Expresso, a tarifa atribuída aos parques eólicos mais antigos é “da ordem dos €110 por megawatt/hora – contra os mais recentes, na casa dos €64/MWh”. Portanto, o atual Governo é que se gaba de combater os sobrecustos das renováveis, mas foi o anterior Governo que reduziu o pagamento às eólicas para quase metade.

Em síntese, toda a lenga-lenga do malvado do Sócrates que, por capricho, andou a encher o país de ventoinhas a custos astronómicos é, afinal de contas, retórica fantasiosa, que não passa o teste da verdade.

A atual maioria construiu todo um argumentário político em torno da ideia das rendas excessivas, culpabilizando o Governo anterior, porque lhe dava jeito arranjar um bode expiatório. Só que quando passamos do discurso aos factos, constata-se que as ditas “rendas excessivas” são afinal pré-2005, isto é, não foram criadas pelo anterior Governo.

Mas há mais. Um diploma de 2005 – sim, novamente 2005 – previa que, após um período inicial de tarifa bonificada (em regra, de 15 anos), os parques eólicos passariam a vender energia à rede aos preços normais de mercado (acrescidos de certificados verdes, destinados a compensar o valor ambiental da energia limpa produzida). Então não é que os arautos da liberalização, da concorrência e do mercado acabam de garantir aos promotores eólicos que, após o fim da tarifa bonificada, terão mais 5 a 7 anos extra de rendas tabeladas?

Mais uma vez, aquilo que o Governo diz é uma coisa completamente diferente daquilo que o Governo faz. Elogia a concorrência de mercado, mas blinda os produtores de energias renováveis dessa mesma concorrência. Critica os supostos desmandos do Governo anterior, quando afinal era o Governo anterior que previa, a prazo, a sujeição da energia eólica às regras (e oscilações de preço) do mercado. Algo que agora é adiado por 5 a 7 anos, pela mão do tão apregoado liberal Álvaro. Liberal contra os fracos, talvez, porque ao lóbi da energia dá o bónus de mais uns aninhos de tarifa garantida e isenta de concorrência.

E não é uma tarifa qualquer! A tarifa que agora o Governo concedeu aos promotores eólicos, por mais 5 a 7 anos do que o previsto, é “da ordem dos €74 a €98/MWh”. O que compara, recorde-se, com os €64/MWh das eólicas da era Sócrates. Quem é que é o responsável pelas rendas excessivas na energia, afinal de contas?

Ah, e para finalizar, os cortes nos CAE (contratos de aquisição de energia) e nos CMEC (custos de manutenção do equilíbrio contratual), igualmente anunciados no final de um Conselho de Ministros em Maio, ainda ninguém os viu. Naquilo que constitui a fatia de leão dos chamados “custos de interesse económico geral”, que pesam cerca de metade da nossa conta de eletricidade, o Governo ainda não mexeu uma palha. Anunciou, é claro. Anunciar é fácil. E os jornalistas são facilmente engrupidos, acham que o anúncio – sobretudo se for feito após um Conselho de Ministros – corresponde à efetiva adoção da medida e ficam convencidos que o Governo já cortou. Mas não. Até ao momento, ainda não cortou nada nos CAE, nem nos CMEC.

Em suma, tudo indica que, no que diz respeito à política energética do atual Governo, qualquer semelhança entre o discurso e a realidade é pura coincidência.
    Paulo F.

6 comentários :

Anónimo disse...

Gostava de vêr uma arrastadeira inteligente contrapôr este texto.
Infelizmente arrastadeiras inteligentes é coisa dos livros de fantasia.

Anónimo disse...

Esta rapaziada vê naquilo que o governo de Sócrates fez como se fosse obra sua.

São uns habilidosos de meia tigela.

As exportações foi obra de quem?

Esta malta é do piorio, são vendedores da Feira do Relógio, que se há-de fazer?

Piruças

Olimpico disse...


Não estou habilitado para comentar estes fatos, mas com o gang e a sua "Agenda", tudo é possivel.
Mas que diz o PARTIDO SOCIALISTA ?
e o Zé ? continuam com o preconceito da Governação Sócrates (?!)...Pelo menos, defendam o que de MUITO BOM foi feito, e foi muito!!!! sempre ouvi afirmar e em voz alta, que só a verdade é revolucionária.....
A direita, nunca fez nada pela evolução do seu povo, pelo contrário cultivou sempre a ignorância, para assim fàcilmente
dominar. Por eles, a emigração atual, ainda seria a da "mala de cartão"....««Abre o olho zé....»»

mário mendes disse...

COMO A ELECTRIDADE PRODUZIDA POR FORÇA EÓLICA FOI UMA DAS GRANDES BANDEIRAS DE JOSÉ SÓCRATES, ESTE GOVERNO DE INCOMPETENTES, TUDO FAZ PARA DESTRUIR TUDO DE BOM FEITO PELOS GOVERNOS SOCIALISTAS DE JOSÉ SÓCRATES. A MEDIOCRIDADE`´E A ARMA MAIS FORTE DOS IMBECIS!

Anónimo disse...

Talvez um pouco tarde para colocar a questão de que as eólicas são geridas remotamente pelas concessionárias em outros países , criaram pouco mais que uma dezena de empregos permanentes em portugal e toda a tecnologia e materiais empregados na construção são estrangeiros.
Ainda há o pormenor de ter de construir outra barragem para apoiar a geração de energia eólica e torná-la rentável.
Nunca sairemos do circulo vicioso dos investimentos mal parados.

Anónimo disse...

Segundo o Expresso, a tarifa atribuída aos parques eólicos mais antigos é “da ordem dos €110 por megawatt/hora – contra os mais recentes, na casa dos €64/MWh”. Portanto, o atual Governo é que se gaba de combater os sobrecustos das renováveis, mas foi o anterior Governo que reduziu o pagamento às eólicas para quase metade.

Imagino eu, que antes de 2005 havia 100 a 110 Mh e em 2010 havia 1000 a 64 Mh. Era isto que eu gostava de ver referido, em valor absoluto, quando se pagava em 2005, a 110 e quanto se pagava em 2010, a 64. O déficil vive de euros, nao de demagogias baratas