sexta-feira, novembro 02, 2012

BPN, omissão e o pretexto mais à mão

João Semedo denunciou que o BPN foi vendido ao BIC por 40 milhões de euros¹, quando havia duas avaliações — uma da Caixa BI e outra da Deloitte — que conferiam um valor muito superior ao banco do cavaquismo. Segundo Basílio Horta, “essas avaliações atribuem ao BPN, no máximo, um valor na ordem 140 milhões de euros, mas, no mínimo, um valor na ordem dos 52 milhões e, portanto, 12 milhões acima do preço pelo qual foi vendido”.

Esta revelação sugere três notas:
    1. Tendo as avaliações sido conhecidas após a conclusão dos trabalhos da comissão parlamentar de inquérito do BPN, as suas conclusões estarão necessariamente inquinadas.

    2. As avaliações foram feitas em Julho de 2011. A venda do BPN ao BIC ocorreu em Março de 2012. A secretária de Estado do Tesouro e das Finanças, Maria Luís Albuquerque, então responsável pelas privatizações, disse só ter tido conhecimento das avaliações cerca de 15 meses após terem sido concluídas. Fica por esclarecer:
      • Quem encomendou as avaliações? A quem foram elas entregues?
      • Passos Coelho decidiu a venda do BPN ao BIC com base em quê? Gaspar e Maria Luís Albuquerque, se foram consultados, basearam-se em quê para emitirem as suas opiniões?

    3. Aconteceu com a privatização do BPN — e trata-se de um argumento que já está a ser utilizado em relação às privatizações da TAP e da ANA: as datas-limite fixadas pela troika, pelo que há que desenrascar os dossiês. Naturalmente que um governo que actua assim coloca-se numa posição de fraqueza perante os eventuais compradores, conduzindo a uma redução do preço. Qualquer pessoa sabe que é assim. O Governo não sabe?

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¹ Com o Estado a ficar com um conjunto de encargos que ainda não estão totalmente quantificados, os quais resultam dos despedimentos, dos litígios pendentes cujas indemnizações ficaram a cargo do Estado, e de créditos malparados com que o BIC não quis ficar.

6 comentários :

Anónimo disse...

Precisavam de se libertar o mais rapidamente possível desse fantasma. Fico espantado com o silêncio do PS sobre o assunto.

Anónimo disse...

Marques Mendes, na sua comunicação oficiosa do Conselho de Ministros às quintas-feiras à noite, bem que tentou o malabarismo de lançar para o ar que não sabia bem se as avaliações tinham sido encomendadas ainda pelo anterior governo ou num período de transição, desculpabilizando a SE do Tesouro e Finanças, que até, como boa alma que era, as tinha visto cair do céu na sua secretária e prontamente enviado à comissão parlamentar.
Quando sabia bem que tinham sido realizadas já por este governo, em Julho de 2011. Uns artistas.

André Salgado

james disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Isto numa empresa privada seria considerado "gestão danosa com dolo" passível de responsabilização criminal. Sendo a empresa o país, continua tudo na mesma???? E a múmia de belém? Não fala?

james disse...

"Fico espantado com o silêncio do PS sobre o assunto." Anónimo sex Nov 02, 04:15:00 p.m.


Embora me identifique com as posições do P.S., considero que as posições de Seguro e Zorrinho no Parlamento começam a ser cansativas e repetitivas.

Não basta dizer que há outro caminho, não basta dizer que a alternativa é o crescimento e, finalmente, não basta dizer que o P.S. há mais de um ano que vem avisando que a política do Governo está errada.

Este discurso não apresenta qualquer novidade.

A fraca qualidade das intervenções dos deputados do P.S. (há excepções como João Galamba, Ferro Rodrigues e outros, mas poucos) nas Comisões mostra bem a mediocridade e a falta de pontaria na contra-argumentação de dossiers sensíveis.

Mutatis mutandis para o BE com uma tal de Cecília Honório, PCP e no PPD e CDS.

A "discussão" do OE de 2013 foi a prova acabada da mediocridade da grande maioria dos deputados que compõem o Parlamento.

Seguro, morde com facilidade o isco que Passos Coelho lhe oferece como engodo.

Uma mudança de retórica e de narrativa por parte do P. S. não pressupõe necesariamente uma radicalização de posições, antes requer que se faça um trabalho de casa mais aturado, o que até à data não se tem vislumbrado.

Por outro lado, o acervo de propostas que o P.S. diz ter apresentado no decurso da presente legislatura, não basta para criar nas forças sociais que sustentam o P.S. um discurso autêntico de verdadeira mudança.

Também não basta que Seguro diga que consegue fazer melhor, faltando-lhe tão só a maioria para o fazer.

Os monos dos deputados de todos os partidos que integram o Parlamento e respectivos discursos aquando da discussão do OE, são a prova acabada de que o Parlamento representa muito mal os eleitores.

Se querem que o Parlamento seja dignificado, que dignifiquem primeiro os mandatos para os quais foram eleitos!

vn disse...

Na venda do Pavilhão Atlântico o valor de transacção também teve por base uma avaliação? Ou isso não interessava mas sim dar o jeito ao genro daquele que dizem ser PR deste país?