terça-feira, março 12, 2013

A hipocrisia política de Cavaco Silva


• Alfredo Barroso, A hipocrisia política de Cavaco Silva [hoje no Público]:
    ‘A resposta de Cavaco Silva aos seus críticos - que desmente os discursos que ele próprio fez até à chegada da direita ao poder - é um modelo de hipocrisia política. E é lamentável que seja ele o Presidente da República de um país mergulhado numa crise tão grave, sobretudo depois de ter argumentado, em duas campanhas eleitorais, que com ele no Palácio de Belém uma crise assim nunca iria acontecer.

    No "subtil" prefácio ao sétimo "tijolo" dos seus Roteiros, Cavaco Silva faz o papel de "virgem" ofendida por quantos o criticam (e não são poucos!), dizendo que "seria fácil (fazer) declarações inflamadas na praça pública (para) satisfazer os instintos de certa comunicação social". Mas então o que é que este Presidente fez senão "declarações inflamadas na praça pública" até à queda do Governo de José Sócrates?

    Porventura achará ele que já ninguém se lembra do inflamado discurso que fez na Assembleia da República, na cerimónia de tomada de posse para o segundo mandato, em que deu claramente luz verde ao PPD e ao PP para derrubarem o anterior Governo? E já não se lembra da forma como tratou em público o anterior primeiro-ministro no célebre caso das alterações ao Estatuto da Região Autónoma dos Açores? E escapou-se-lhe da memória a patética comunicação ao país na sequência do famoso caso das "escutas belenenses"? Isto para lembrar apenas três exemplos flagrantes da sua hipocrisia política...

    Mas convém salientar ainda a porção de vezes que Cavaco afirmou solenemente, referindo-se ao Governo de Sócrates, que havia limites para os sacrifícios exigidos aos portugueses, chegando mesmo a sugerir que esses limites já tinham sido ultrapassados por esse Governo. Todavia, invoca agora, com revoltante cinismo, "a (sua) obediência a uma cultura de responsabilidade" - que "impõe que o Presidente da República não se deixe influenciar pelo ruído mediático" - para não ter de avaliar os brutais sacrifícios a que os portugueses estão hoje a ser submetidos, impiedosa e iniquamente, pelo Governo de direita neoliberal!

    Impressiona-me também, nas autojustificações públicas de Cavaco Silva, a crítica indirecta, mas despudorada, aos antecessores em Belém, sobretudo aos socialistas Mário Soares e Jorge Sampaio, que nunca se furtaram a intervir em público quando tal era exigido pela conjuntura e pelas circunstâncias políticas. Por outro lado, ao mencionar a sua "longa experiência política" (ele, que só quer ser um tecnocrata de sucesso!), ignora as suas pesadas responsabilidades no crescimento exponencial do "monstro" financeiro que deu à luz durante os dez anos em que foi primeiro-ministro, tornando-se, por essa e outras razões, um dos maiores responsáveis pela decadência do país.

    Tenho dito e repito: a direita no poder está a multiplicar a miséria, a semear o ódio e a degradar a democracia. Optou por servir as agências de ratinginternacionais, os especuladores financeiros, a banca e os grandes empresários e gestores, em vez de servir os portugueses, como seria seu dever, imposto por uma Constituição que despreza.

    Se o Presidente da República conservar esta maioria no Parlamento e no Governo por mais tempo, não se duvide que ela prosseguirá a sua obra de desmantelamento dos serviços públicos, de destruição da coesão social e de erosão do Estado de direito democrático. E provavelmente já ninguém irá a tempo de reparar os enormes danos que estão a tornar-se irreversíveis - e de evitar o pior que já todos adivinhamos.

    É sobre isto que toda a esquerda deve reflectir. Já não basta unir-se para eleger um novo Presidente da República (desde que ninguém lance torpedos contra essa união). É preciso que se esforce para encontrar uma plataforma mínima de entendimento (que não passa necessariamente por um Governo de coligação). É necessário evitar que o PS, se vencer com maioria relativa as próximas eleições legislativas, vá repescar mais uma vez um dos partidos de direita derrotados, para com ele tentar fazer mais do mesmo, mas com paninhos quentes. Como se tal fosse autorizado pela "tríade" neoliberal que impôs ao país o voto de pobreza...’

2 comentários :

Arrebimba o malho disse...

Alfredo Barroso é dos que ainda não sabe que a Esquerda não existe, havendo apenas a Extrema-Esquerda (PC e BE) e o Centro-Esquerda (PS) e que este está tão longe da Extrema-Esquerda como da Direita (que não tem Extrema, nem Centro).


Por isso, é inútil procurar "plataformas" de entendimento com quem não só não está mínimamente interessado nelas, como nem sequer dialogar sabe.


Ao longo de trinta e cinco anos de Cunhal/Soares, Carvalhas/Guterres e Sócrates/Louçã/Jerónimo esta evidência já deveria estar mais do que interiorizada, solidificada no pensamento político português.


Do que o PS precisa, ou melhor (ainda há PS?), do que o Centro-Esquerda português precisa, urgentemente, é de se DEMARCAR das Esquerdas e da Direita, convicta e claramente, CONSTRUIR uma alternativa política sólida e uma NARRATIVA anexa convincente e, então, estabelecer uma ampla plataforma de entendimento com o ELEITORADO DA ESQUERDA, passando por cima das cúpulas dos Partidos parlamentares da Extrema-esquerda (que nem entre si se entendem!), para finalmente quebrar o tal ciclo vicioso dos Governos minoritários, hesitantes e titubeantes do Passado, que VÃO SEMPRE DESEMBOCAR EM NOVAS CONTRA-OFENSIVAS DA DIREITA (AD, Cavaco, Barroso/Santana, Passos/Portas...)!


E essa ALTERNATIVA política e narrativa anexa devem ser isso mesmo, propostas alternativas, estruturadas e COMPLETAS, nos campos político, comunicacional (linguagem), socio-económico, ético e INSTITUCIONAL (algo que escapa sempre ao pensamento de base preguiçosa marxista).


Ou seja, falando claro: terá forçosamente de incluír RUPTURAS com os paradigmas dominantes da Democracia representativa (nova Lei eleitoral, com muito maior PROPORCIONALIDADE), na JUSTIÇA (limpeza implacável da Procuradoria-Geral da República e dos Tribunais!), da Economia e Finanças (nova mentalidade contributiva e distributiva), da Diplomacia (repensar de alto a baixo todo o projecto europeu!) e da Administração pública (descentralização, eficácia e REGIONALIZAÇÃO).


Enquanto não houver um Projecto Político de envergadura que rompa com o nosso Passado recente (pós fim do Concelho da Revolução) e que atraia personalidades e competências hoje enojadas com o rumo da política (desde o azimute de um Rui Tavares ou Daniel Oliveira ao de um Rui Rio ou Pedro Marques Lopes!) não há volta a dar ao projecto político do 25 de Abril + 25 de Novembro, democrático, progressista e europeu, corporizado pela praxis política do eixo Melo Antunes/Mário Soares.


Se tal não for viável, ou não resultar, admito pugnar por uma semi-ditadura, ao estilo Chavista, ou então mesmo uma Ditadura, mas de Centro! Nunca tal foi tentado (talvez Perón...), só conhecemos Ditaduras de Direita e de Esquerda, que não servem, estamos prontos para experimentar o que nunca ousámos.


Pela (última oportunidade de?) salvação de Portugal!


VEM FAZER O QUE AINDA NÃO FOI FEITO.

Júlio de Matos disse...



Talvez... a ler?


http://istovaiacabarmalaivaivai.blogspot.pt/