segunda-feira, agosto 12, 2013

Tolhido perante a tinta do polvo


Não é sequer uma história que exija atributos excepcionais para a compreender: foi proposto, em nome do Citigroup, um contrato de swap a um anterior governo, proposta essa que esse governo rejeitou.

Seria uma história sem história se os caixeiros-viajantes do Citigroup não viessem a ser aliciados, anos mais tarde, a exercer funções na órbita do Estado: um, nomeado secretário de Estado do Tesouro; outro, contratado para ser explicador da actual ministra das Finanças; um terceiro, catapultado para a administração do grupo Águas de Portugal.

Acossado pela revelação destas ligações, o Governo — o de Passos & Portas, no qual pontifica uma ministra das Finanças incapaz de justificar por que manteve os swaps a cozer em lume brando durante mais de um ano — decidiu recorrer, uma vez mais, à estratégia do polvo: lançar muita tinta para criar a confusão.

Para evitar deixar-se salpicar pela tinta derramada, António José Seguro poderia ter optado por sublinhar o que aconteceu: um membro do actual governo tentou vender a um anterior governo um swap, que este recusou. Mas Seguro reagiu da maneira mais desacertada que se poderia imaginar:
    • Por um lado, esquivou-se a defender o seu assessor económico, que se tinha limitado a encaminhar a proposta do Citigroup para o ministério com competência para a avaliar;
    • Por outro lado, muito embora seja do domínio público que o anterior governo havia rejeitado tal proposta, acrescentou, sem destinatário definido, que com ele é tudo diferente: “Na política não somos todos iguais. Eu abomino a baixa política e a política feita sem ética.”

Entretanto, o PS emitiu um comunicado, num português sofrível pontuado por erros ortográficos de palmatória, em que se insurgia contra esta “tentativa vil e soez de envolvimento do Secretário-geral do PS no processo dos SWAPS apesar de ser público e notório que nada o liga ao processo”. António José Seguro, que por certo se recordará das múltiplas campanhas sujas feitas contra o anterior secretário-geral do PS, parece ter ficado surpreendido com uma mera operação de chicana, entre tantas outras, promovida pelo Governo.

É no teatro de operações que se vê a real capacidade dos generais. Abjurar, em momento de (injustificada) aflição, assessores e antecessores não é um bom prenúncio. Nem se enquadra na tradição do PS.

29 comentários :

Anónimo disse...

Parabéns, claro e preciso o seu comentário, estamos fartos também deste Sr.. Mal está uma democracia, quando falha o governo e os partidos que o apoiam, e não haja oposição à altura!

Anónimo disse...

"Abjurar, em momento de (injustificada) aflição, assessores e antecessores não é um bom prenúncio"

ò Miguel estas a falar do molusco que lidera o PS?
Foda-se!! então mas isso é o que ele tem feito há anos. Sempre.

Que este molusco exista..não me surpreende.
Em todos os grupos suficientemente grandes há traidores e gente reles. Agora que o tenham eleito e que se mantenha há dois anos como lider do PS...
Diz mais sobre o partido, do que sobre o molusco.
E o que diz sobre o partido é mau. muito mau.

Miguel

Anónimo disse...

Pois! Uma vez que estamos no verão, a época deles. Será uma questão de tomates?

Hugo Serejo disse...

Desculpem lá mas com que escrupulos se pode defender alguém que disse em tempos, e de acordo com a sua função de assessor económico de um Primeiro Ministro, que não havia qualquer problema de maior com um swap tóxico para disfarçar a dívida pública? fez muito bem em não defender e devia era substitui-lo!
Hugo Serejo

james disse...


Li, entretanto, o comunicado do PS que é uma "obra-prima" em termos de forma e de substância.

De facto, Seguro,a toda a força, sempre que pode e sempre que possível, procura distanciar-se de Sócrates e da tradição histórica do PS.

Obcecado com o seu umbigo e com o aparelho, e, na iminência de um eventual fracasso/desastre nas autárquicas, Seguro, deambula pelo país nos circuitos da carne assada, sem protagonizar sequer um discurso político consistente, audível e congruente.

Não se augura nada de bom com esta direcção do PS...

Anónimo disse...

Mas onde é que Seguro se enquadra na tradição do PS?

Anónimo disse...

Hugo Lomba Serejo:

A proposta do Citibank foi enviada para o Ministério das Finanças para ser apreciada. Certo ou errado?

Em nenhuma parte o assessor em causa defendeu o SWAP!

Anónimo disse...



O Hugo Serejo pode ser boa pessoa, mas para além de ser bipolar, faz parte daquele grupo do centrão que vota tanto neste, como naquele, ou seja, vota naqueles que lhe provocan menos danos no quintal. Só que em 2011 enganou-se... e mesmo assim, ainda não está convencido em não voltar a votar PSD.

RFC disse...

Li o post e, logo seguida, partilhei-o através da minha short mailing list. Disse isto (e os comentários do CC provam-no)... Eis um post do CC, elucidativo (e apontado ao coração dos socialistas).

Anónimo disse...

Já o disse várias vezes: ou o PS se livra do Seguro ou será tão responsável pelo que acontecer no país como o gang do pote ( que vai ao pote, entenda-se)

Anónimo disse...

Sabem qual é a opinião, já foi aqui manifestado, pelo Zé da Adega, acerca do SG ...com ele, é para perder, é como o parceiro dos vigaros da S. Caetano

Não convence ninguém..a mim não - a shit é a mesma

Zé da Adega

jeitoso disse...

Seguro é o Passos do PS. Este zéquinha não acerta uma, o homem não presta mesmo.O Tóze é o lacaio da direita cavaquista.

Anónimo disse...

Seguro precisa na realidade de ser mais pró-activo e falar dos problemas que estão a dar cabo do país: os despedimentos no estado, a razia nas pensões.

Saul Ribeiro

Fernando Romano disse...

António José Seguro? Ninguém o entende. Será que não sabe as palavras necessárias para se fazer entender...?

Há muito que anda por aí, ao palpite, a precisar de uma boa surriada para se explicar. O post do Sr. Miguel Abrantes desferiu-lhe suavíssima chicotada, como só Deus (se é que existe) conseguiria dosear. Ora procura evidenciar virtudes pessoais quase teologicais, que ninguém parece compreender (menos ainda o vulgo inculto..., como eu), ora sai detrás dos arbustos e propala capciosas declarações, que a mim me parecem ferroadelas na história, uma história digna. A cada dia que passa surge mais carregado de parecer...

Parecer o quê?! Afinal quem é António José Seguro?.

Anónimo disse...

Gostava de ter escrito este texto. Bom!

Anónimo disse...

Que merecido puxão de orelhas....

Tó Zero disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Hugo Serejo disse...

O Hugo Serejo é militante deste Partido Socialista e da sua juventude desde os seus 16 anos, metade da sua vida, foi e será sempre socialista mas não usa palas e critica como sempre criticou o que considera errado dentro ou fora da sua militãncia, se existem erros em Seguro, também existiram em Sócrates e em Guterres e mesmo em Sampaio ou Constñcio ou mesmo Soares. E quando considero que os existem aponto-os e critico-os sejam ou não da pessoa que apoiei para Secretário Geral do meu partido. Sim porque mesmo que não tenha sido quem eu apoiei se ganhou também passa a ser o meu Secretário Geral, e, ao contrário da tropa antropofágica que pulula pelos tachos do meu partido, defendo publicamente até ao limite da minha consciencia militante as suas deliberações, não deixando no entanto de ter uma atitude crítica e escrutinadora internamente. Não fui nem nunca serei um militante "yes man" de ninguém, tenho lealdades e amizades internas com muitos camaradas mas mesmo essas, aliás sobretudo essas, prezam pela honestidade e liberdade de pensamento. Talvez por isso nunca terei ido além das estruturas locais no Partido, mas como não vivo da Política e gosto de dormir bem é melhor assim. Por fim volto a dizer se de facto há um parecer do assessor económico financeiro que diz que o contracto swap tóxico em causa não trazia problemas de maior, então ele prestou um péssimo serviço a Sócrates, que felizmente estava atento como brilhante político que é,ao País e ao Partido, pondo em causa o seu profissionalismo e a imagem do Partido não pode nem deve ser defendido pelo actual Secretário Geral do Partido Socialista, e mais se se mantém como assessor ponho em causa se deve mater esse cargo. Quem desempenha este tipo de funções também erra, é um facto, mas deve ter a consciência que a amplitude e o impacto dos seus erros pode atingir uma Nação e um Partido, pondo em causa tudo o que ambos representam começando pelas pessoas.
Hugo Serejo- militante da Secção de Corroios, Concelhia do Seixal, Federação de Setúbal, candidato a deputada da Assembleia Municipal do Seixal pelo Partido Socialista.

jose neves disse...

Caro Hugo Serejo,
O caro anda pelas estruturas locais e ainda bem pois talvez nem por ai mereça andar.
O Cerejo vê a posição tomada pelo assessor em 2005 pelo prisma de conhecimento que tem hoje. Nem se dá ao trabalho de pensar que em 2005 os swaps eram uma novidade-invenção financeira sem a carga de conotação nociva que tem hoje? Queria que à primeira impressão devolvesse a proposta para trás? E deixava a hierarquia toda sem sequer ver a proposta sem a mínima análise consequente?
Em qualquer empresa, ou chafarica, qualquer proposta é recebida para ser analisada com tempo ou acha que é logo tomada uma decisão com a entrega? Por muito paleio que o vendedor tenha,e neste caso certamente tinha além de que era enviado pelo City, ninguém de bom senso decide tomar, sem mais,uma decisão no momento? Se o tivesse feito, isso sim seria um erro crasso de ingénuo principiante.
Caro, o seu comentário revela, precisamente, o que são os atuais dirigentes do PS: muito, muito fraquinhos. Tão, que muitos não se diferenciam mental e politicamente nada, mesmo nada, dos psd.
E infelizmente quando, face à barbárie do governo, a diferença devia ser a marca de origem do PS.

Fernando Romano disse...

Caro Hugo Serejo,

Sem querer envolver-me no interessante diálogo com o senhor José Neves, a sua afirmação, "há um parecer do assessor económico financeiro que diz que o contracto swap tóxico em causa não trazia problemas de maior", não a li em sítio nenhum - talvez por desatenção minha.

De resto, estando inteiramente de acordo com o Sr. José Neves, seria muito arriscado que os assessores de J. Sócrates tomassem de imediato uma decisão extrema num sentido ou noutro; decisão que, em última instância, teria que ser política.

"Com interesse", parece ter sido a única recomendação que fizeram, com o propósito de ser objeto de análise mais aprofundada. Aliás, o Sr. Miguel Abrantes é muito esclarecedor sobre o assunto, no seu post de 10/8/13, "Ó Martim, porquê aceitar fazer figura de urso".

Anónimo disse...

Ou muito me engano ou o Serejo é tanto do PS como o Louçã simpatizante do Stalin !

Anónimo disse...

Já chega! O Seguro ainda não percebeu que está em cima dum vulcão e não o pode apagar com falinhas mansas.

RFC disse...

Duas ou mais palavras prévias, parece-me que úteis. Habituei-me a ver este género de documentos fac-similados nas primeiras páginas dos jornais. Eles são a prova por excelência do que se diz, tal como uma prova no Grand Tour do século XIX. Tal acontecia porque, alegadamente, existiria uma fonte anónima que se encarregava de os fazer chegar aos jornais (e o PR terá um baú repleto de ministros seus apanhados nas malhas do Independente, por exemplo). Tanto assim é que também eu tenho, algures, o recorte de uma antiga crónica intitulada A MENINA DA FOTOCÓPIA, escrita pelo António Barreto e dada à estampa nos melhores anos do P., que ilustra magnificamente esses anos de... perda da inocência (chamemos-lhe assim). Ora, sem que tenha sido assinalado no tempo o facto de os *normativos* serem hoje substancialmente diferentes (apesar da rápida difusão tecnológica dos últimos anos, convenhamos)*, a novidade é que, desta vez, houve uma fonte partidária governamental (!) que os difundiu e que ela surgiu claramente identificada. Os documentos chegaram às mãos dos jornalistas através do *gabinete de crise* (a SIC disse-o abertamente) que o governo PSD/CDS e respectivos partidos accionaram em desespero de causa no caso dos swaps. E, por isso, pode perguntar-se se a ética não é hoje a mesma coisa (a ética dos protagonistas políticos ou a que obriga os profissionais de ofício... e então a AR, PGR, ERC, SJ, provedores do leitores etc. deveriam pronunciar-se), ou poderei eu ter andado distraído nos últimos anos como um qualquer raiano que não sou e, atravessada a linha de fronteira, pura e simplesmente não a vi. E nem sei se ela agora existe, de facto.

Dito isto, o download do .pdf pode fazer-se no P. online (colar no browser, se necessário): http://www.publico.pt/ficheiros/detalhe/despacho-do-gabinete-de-socrates-enviado-as-financas-20130808-203448 .

* Insisto nos *normativos* outra vez, entendidos aqui como algo que dê suporte, como devem, à vida democrática portuguesa. De memória lembro-me do uso político que o emergente regime republicano fez dos documentos encontrados nos paços reais atinentes aos reinados dos últimos monarcas da dinastia brigantina (seu pai e D. Manuel II), e infere-se que esse uso visava claramente atingir grande parte da classe política da monarquia ainda viva, mas a verdade é que essa difusão foi autorizada previamente pela Assembleia Constituinte. Era um tempo de fim de ciclo, um tempo pós-revolucionário e aqui reside o ponto.

Hugo SEREJO disse...

Caro Fernando Romano eu disse:
"... se de facto há um parecer do assessor económico financeiro que diz que o contracto swap tóxico em causa não trazia problemas de maior, então ele prestou um péssimo serviço a Sócrates, que felizmente estava atento como brilhante político que é,..."
No meu ponto de vista indicar "que é uma operação corrente do IGCP( seja á data seja agora caro José Neves) não é abonatório para o assessor uma vez que a natureza dos mesmos não mudou e o risco "tóxico" já existia, o grau de malignidade é que ainda não havia sido verificado. Mais, verifica-se que o IGCP, ao contrário da normalidade indicada, acaba por desaconselhar fazendo com que Teixeira dos Santos e José Sócrates tivessem a maior inteligência e coerência política, que infelizmente este executivo tenta beliscar.
A questão de fundo da minha intervenção não se prende com José Sócrates e o seu executivo até porque um assessor não faz parte do Governo mas sim assessoriza-o, pode é ser bem, mal ou assim assim.
A questão de fundo é que enquanto Socialista custa-me tanto verificar que tentam a todo custo abalar (ainda hoje) a idoneidade de Sócrates e a sua coragem política, como me custa verficar que existem militantes que tentam a todo custo atacar o PS por puro ressabiamento eleitoral, como já disse antropofagia partidária, não percebendo que fazem tão mal ao Partido como os laranjas, os be, cdu e cds juntos. Continuo a dizer que Seguro não tem que defender um assessor seja dele ou de quem for que prestou um mau serviço. A bem da transparência, da coragem e da verdade política de um grande PS.
Sou tão ou mais crítico que alguns que por aqui comentam, mas acreditem que não faço por dá cá aquela palha nem para satisfazer o ego a alguns camaradas. Vou dizer mais conheço pessoalmente alguns dos assessores e membros da equipa de Sócrates em diversas areas , alguns dos tempos da JS, e tenho imensa consideração por alguns deles mas eles também sabem que digo aquilo que penso e, ao contrário de muitos, sou capaz de os criticar internamente quer por militancia quer por amizade, mas publicamente não.
Hugo Serejo

Anónimo disse...

excelente post

F. Borges disse...

Este post (ou outro parecido) tardou. Mas oportuno e justo.
É uma tristeza. No PS há tanta gente com a doença do sono?

Anónimo disse...

E o que é lamentável é a existência de outros moluscos que nem a sua presença em palco no passado conseguem defender e apoiam agora muito seguros este outro molusco.

Anónimo disse...

E este assessor ainda continua inabalável e seguro com Seguro?

Bom...esperemos que seja com alguma reserva mental...porque seguro...seguramente ....não está muito seguro dele...

Irene disse...

This is awesome!