Um governo de cabeça perdida dá três tiros em Pais Jorge

“Na noite em que a mataram
Rosita teve muita sorte.
Das três balas que apanhou
Só uma é que foi fatal.”

Quadra do tempo da Guerra Civil de
Espanha, citada por Alexandre O’Neill

O Governo passou a última semana a tentar içar Joaquim Pais Jorge do lamaçal em que o ajudante da Miss Swaps se havia atolado. Acontece que, na terça-feira, Pedro Lomba, vendo que se tratava de uma diligência inútil, não teve o sangue frio necessário e deu-lhe, em directo, um tiro que o deixou a estrebuchar.

Ontem, perante este quadro de horror, Marco António (que parece ter swaps agarrados às canelas) subiu ao púlpito da São Caetano e desferiu outro tiro, que atravessou Joaquim Pais Jorge e atingiu ainda em cheio Paulo Gray, compagnon de route de Pais Jorge na excursão a São Bento para vender produtos para maquilhar défices: depois de o Governo ter estado uma semana a reclamar a inocência do ajudante da Miss Swaps, Marco António descobre que Pais Jorge e Paulo Gray poderão, afinal, ter cometido um crime. Ao também perder a cabeça, Marco António mais não fez do que chamar a atenção para a circunstância de a Miss Swaps se rodear de alegados criminosos — um como secretário de Estado do Tesouro e o outro como expert para avaliar swaps.

Mas o melhor estava reservado para o dia de hoje. A máquina de comunicação do Governo faz seu o documento que ontem repudiara, considerando-o “forjado”, e lança poeira para o ar — fazendo ruído para não se perceber que esse documento do Citigroup (apresentado por Pais Jorge e Paulo Gray) foi recusado por ser prejudicial aos interesses do país. É o terceiro tiro desferido à queima-roupa contra o corpo já inanimado de Joaquim Pais Jorge.

O homicídio político de Joaquim Pais Jorge (e os ferimentos sofridos por Paulo Gray) traz de novo à ribalta a questão central: Maria Luís Albuquerque, que mentiu na comissão parlamentar de inquérito aos contratos de swap, pode continuar como ministra das Finanças, quando só se rodeia de gente que andou por aí a vender swaps (sem esquecer o curriculum de um outro seu colaborador dilecto, João Moreira Rato)?