terça-feira, abril 01, 2014

É mais fácil enganar as pessoas
do que convencê-las de que foram enganadas

• Manuel Pinho, O maior inimigo da verdade:
    «(…) No que respeita à economia, todos sabemos que o maior inimigo da verdade não é a mentira, são os mitos com base nos quais se cria um diagnóstico errado da situação, o que naturalmente conduz a um tratamento errado. Todos conhecemos o discurso de que a zona euro serve da mesma forma os interesses de todos os participantes e estava a funcionar muito bem até à crise provocada pela Grécia, que a recessão é o melhor remédio para baixar a dívida pública nos países atingidos pela crise, que em Portugal se trabalha pouco e o Estado gasta muito e que a solução consiste em cortar as despesas sociais "insustentáveis" e fazer reformas estruturais.

    1- O euro serve da mesma forma todos os países que a ele aderiram. Não, da mesma forma que no passado o padrão dólar deu um privilégio exorbitante aos Estados Unidos, o euro serve, acima de tudo, os interesses da Alemanha porque lhe assegura uma taxa de câmbio hiperdesvalorizada, cujo resultado é um excedente da balança de pagamentos superior ao da China.


    2 - A recessão é o melhor remédio para baixar a dívida pública. Não, a figura mostra que a dívida pública aumentou em 26 p.p. na zona euro e 33 p.p. nos Estados Unidos. Nos países do euro em crise, o aumento foi superior: 79 p.p. na Irlanda, 63 na Grécia, 54 em Espanha e 56 p.p. em Portugal.


    3 - Trabalha-se menos nos países do sul da Europa. Não, os trabalhadores portugueses não são preguiçosos uma vez que trabalham, em média, 20% mais horas/ano do que os alemães, os holandeses e os franceses.


    4 - A raiz dos problemas é o peso excessivo da despesa pública. Não é, nem foi.

    Primeiro, se olharmos para os valores dos últimos 60 anos verifica-se que a despesa pública foi, de uma forma geral, menor do que na Alemanha, na França e na Suécia, por exemplo. Segundo, os valores de 2013 mostram que em Portugal o peso da despesa pública está na média da UE e da zona euro, sendo semelhante à da Holanda e da Áustria, mas muito inferior à da Bélgica, Finlândia e França.


    5 - Vivemos num país onde existem poucas desigualdades, o que justifica plenamente o ataque cerrado ao Estado social. Não, Portugal é um país relativamente pobre e com uma enorme desigualdade na distribuição de rendimentos, tal como medida pelo coeficiente de Gini, por exemplo. Em 2005-2010, os indicadores de desigualdade estavam a evoluir no bom sentido, porém, estão a piorar desde então. É preciso muita imaginação para atribuir as culpas da crise aos benefícios sociais das viúvas, pensionistas e polícias e aos salários excessivos pagos aos funcionários públicos e militares.


    6 - A solução mágica passa por reformas estruturais. Só faltava mesmo a OCDE vir agora dizer no seu Relatório sobre Reformas Económicas, 2014 que de acordo com o indicador PRM (product market regulation) Portugal está no top 10 mundial dos países em que há menos barreiras à concorrência, estando mais bem colocado do que, por exemplo, o Canadá, o Luxemburgo, a Espanha, a França e a Suécia). Em termos de barreiras ao empreendedorismo, está em 7.º lugar, à frente da Alemanha e do Reino Unido e tem o 4.º mercado da energia menos regulamentado na OCDE, sendo apenas ultrapassado pelo Reino Unido, pela Espanha e pela Alemanha!


    O PIB em 2013 está ao mesmo nível do de 2001. Por definição, o crescimento do PIB é igual à soma do crescimento da produtividade (produto por trabalhador) e do crescimento do número de trabalhadores. O nível de vida em Portugal é baixo porque, como mostra a figura abaixo, a produtividade do trabalho é perto de metade do registado na Holanda, Alemanha, Bélgica e França e o crescimento da economia é baixo porque a produtividade tem crescido muito aquém do necessário. É uma questão de aritmética, não é de teoria económica.

    Porque é que a produtividade é tão baixa? Também sobre a produtividade há muitas opiniões com base em mitos. Como disse Mark Twain, é mais fácil enganar as pessoas do que convencê-las de que foram enganadas. Enterremos os mitos, melhorar a produtividade tem de ser o tema central de qualquer discussão séria sobre a economia.»

4 comentários :

Fernando Romano disse...

Manuel Pinho brinda-nos com um conjunto de artigos de grande interesse e oportunidade, numa linguagem simples, acessível - acessível também para mim -, devidamente fundamentados. Conheço Manuel Pinho apenas pelo seu desempenho nos anteriores governos, um dos melhores ministros de J. Sócrates. Teve ação governativa de elevado nível em conjugação com os agentes económicos, nomeadamente, com os trabalhadores através dos seus representantes, atitude que alvoraçou o PCP e a direita mais conservadora, dando azo àquela saborosa metáfora gestual, o que vocês têm é dor de corno, empurrando J. Sócrates para um erro político ao pedir-lhe a demissão. José Sócrates teve o privilégio de ter na sua equipa excelentes ministros. Mérito seu, obviamente. Desconhecia este Manuel Pinho que agora aparece com estes artigos limpos e secos. Como Ministro desbravou caminho com o improvável ou o inimaginável no nosso País durante os últimos séculos, provocando o desassossego naqueles que só se metem a fazer o que já sabem que é possível, dentro da ordem estabelecida, e, mesmo assim, fracassam - uns cagões.

Anónimo disse...

O gajo que brindou o País com um par de cornos desrespeitando a AR e os deputados eleitos democraticamento pelo povo. Devia estar era caladinho, pois fez parte do clube da bancarrota.


Anónimo disse...

Parte do clube da bancarrota fazem estes imbecis governantes e os que os apoiam. Vais ver, anonimo arrastadeira, em que estado ficou o país quando estas bestas forem corridas a pontapé nas próximas legislativas...Se fosse a ti emigrava que o tacho está a acabar...

Olimpico disse...

Fico perplexo, comonainda há gente que ainda acredita na cantinela da bancarrota.Tirem as palas. Na Bancarrota estamos agora, com a agravante de terem ajudado a colocar o mundo, a beira doutra guerra!!!

NB: Para aqueles que militam no Ps, pelo menos, aos que acreditam em Antonio Costa, solicitem-lhe, que ao assumir a liderança do PS, antes da realização ao de eleições, obrigue uma entidade independe a fazer uma auditoria às contas do país, evitando assim, a lenga ...lenga....da herança! !! Tenho a certeza que esta será muito pesada.