sábado, maio 10, 2014

A Europa, no dia seguinte ao seu dia

— Tás a ouvir ou quê, José?!

• Augusto Santos Silva, A Europa, no dia seguinte ao seu dia:
    «(…) Se não foi o modelo europeu a origem da crise mundial de 2008, por que é que a Europa dá tamanhos sinais de desorientação e abulia?

    Vejo três razões. A primeira é, desde 2010, a imposição da austeridade como única resposta à crise. Esta opção política pôs as populações a pagarem pelos desvarios dos bancos e fundos de investimento, afundou a economia na Grande Recessão de que estamos saindo a passo de caracol, e fez regredir os níveis de rendimento e bem-estar de grande parte dos europeus.

    A segunda razão, ainda mais grave do que a primeira, foi a perda de qualquer sentido de solidariedade e coesão entre estados-membros, de que o comportamento perante a Grécia constituiu demonstração exemplar, mas não única. Ora, isto não significa apenas pôr em causa o espírito fundador da originária Comunidade Económica. É também jogar fora a bandeira que conduziu os sucessivos alargamentos e transformou a Comunidade numa união política: a bandeira da convergência progressiva dos países em termos de desenvolvimento.

    A terceira razão ainda consegue ser mais grave. É o medo. Sim, o medo que tolhe lideranças europeias e nacionais medíocres, incapazes de mobilizar e dirigir, intendentes, como diria De Gaulle, mais do que governantes, sem visão e, portanto, sem coragem política.

    São estas três razões que estão a bloquear a Europa, a cavar ainda mais o fosso entre os cidadãos e as instituições, a permitir o reinado dos egoísmos nacionais e o avanço da extrema-direita e dos eurocéticos. São elas que fazem as instituições europeias terem realmente vergonha de festejar o seu dia.»

2 comentários :

Pedro Sousa disse...

Toca a partilhar e a assinar: http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=cimeira-troika

Rosa disse...



Já assinei...