sexta-feira, outubro 17, 2014

Todos inocentes...


O Sol¹ publica hoje excertos da gravação de uma reunião do conselho superior da família Espírito Santo. A peça arranca assim: «O aumento de capital do BES decorria e aparentemente tudo corria bem. Mas a holding do grupo estava em falência técnica há muito — mais de seis mil milhões de passivo — e os investidores queriam ser reembolsados. A família tenta tudo para arranjar capital.»

Durante a reunião, os presentes tomam conhecimento de que a Procuradoria-Geral da República do Luxemburgo tinha acabado de anunciar que três sociedades do Grupo Espírito Santo com sede no grão-ducado estavam sob investigação. A reacção de Ricardo Salgado dá uma ideia do ambiente que se gerou na sala: «Isto agora vai piar mais fino, temos aqui um problema sério. Pode ser dramático para o BES. Vai ser muito difícil segurar o grupo nestas circunstâncias».

Impunha-se uma actuação mais célere. André Mosqueira do Amaral defende a necessidade de uma linha de crédito extraordinária, que só poderia vir de um auxílio público. Sugere para tanto que uma comitiva do clã faça «um pedido de ajuda às autoridades», numa «narrativa de humildade».

Mas a situação de emergência obriga a saltar formalidades. Decide-se que Ricardo Salgado telefone ao governador do Banco de Portugal para que este convença a Caixa Geral de Depósitos a abrir os cordões à bolsa. Carlos Costa não aceita apoiar a iniciativa, com justificação de que era preciso evitar o contágio do sistema financeiro.

É então que José Manuel Espírito Santo sugere baterem a outra porta: «O Moedas, o Moedas! Eu punha já o Moedas a funcionar». Salgado liga-lhe no mesmo minuto: «Carlos, está bom?» Pressuroso, o então secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro pôs-se mesmo a funcionar: diz a Salgado que não só se predispõe a falar com o presidente da CGD como vai tentar pô-lo em contacto com o ministro da Justiça do Luxemburgo, de quem é «amicíssimo». O telefonema acaba com Ricardo Salgado a agradecer ao Moedinhas: «Obrigado, Carlos, um abraço».

Acontece que a ordem de trabalhos da reunião do conselho superior da família Espírito Santo continha um outro ponto explosivo: a sucessão de Ricardo Salgado. Na abertura dos trabalhos, o então presidente do BES leu uma carta que havia enviado, a 31 de Março, ao governador do Banco de Portugal. Nessa carta, que, segundo o Sol, estava escrita «num tom claro de chantagem», alertava-se para «os riscos sistémicos» que o banco e a banca portuguesa enfrentariam se a família fosse afastada da governação do BES antes do aumento de capital — que só terminaria a 9 de Junho.

Foi então que Ricardo Salgado fez questão de recordar aos presentes que «tem acesso a uma rede de contactos políticos conceituados», dando como prova a divulgação que fez da carta enviada ao governador do Banco de Portugal: «Essa carta li depois ao presidente da República, ao primeiro-ministro, à ministra das Finanças e ao José Manuel Durão Barroso».

A reunião do conselho superior da família Espírito Santo decorreu no dia 2 de Junho de 2014.

À luz deste relato da reunião, como é que o Presidente da República, o alegado primeiro-ministro, a ministra das Finanças, «o José Manuel Durão Barroso», «o Moedas» e o governador do Banco de Portugal puderam depois continuar a sustentar que o BES estava sólido? E como é que Cavaco Silva pôde afirmar e reafirmar que apenas teve acesso a informação através de Passos Coelho?

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¹ A Newshold de Álvaro Madaleno Sobrinho controla o i e o Sol, que estão a sobreviver à custa do caso BES.

10 comentários :

Anónimo disse...

O Dr. Mário Soares não disse há dias, que Ricardo Salgado ia meter a boca no trombone? Aí está... E é só o princípio... Ricardo Salgado caíu... Mas irá arrastar consigo alguns dos seus compinchas.

Anónimo disse...

Camara Corporativa.Simplesmente o melhor jornal online.

Anónimo disse...

o asco que esta gente causa!

soudocontra disse...

Todos do MAIS "FILHOS DA MÃE" QUE HÁ, eram já todos na choldra e a pão e água, gatunos e criminosos, A GOZAR COM O POVO TUGA, que exploram até mais não!
MCTorres
P.S.: Algumas mães não terão culpa nenhuma(!?!?!?) de terem parido estes escroques e criminosos!!!

Anónimo disse...

É já pôr o Marques Vidal de Aveiro a tomar conta do caso e apanham todos prisão perpétua.

Anónimo disse...

a República do Luxemburgo?

ignatz disse...

e por causa das moscas mandaram o moeditas bruxeliar-se, enquanto está ao fresco os jornalistas pousam nos salpicos.

Anónimo disse...

O Miguel é Fixe - hehehe

Zé da Adega o da Esperança

Anónimo disse...

O Moedas quando valer dinheiro vai para trocos

Zé da Adega da Esperança

Anónimo disse...


Entretanto também passou nesta história mais um Wise Boy bem comportado e videirinho - o nosso Prof.Victor Bento - que vem de lá de baixo a trabalhar no duro: desde os anos 80 com carreira bem orientada para os circuitos certos, sempre a posicionar-se na ascensão ... Autoridade Monetária de Macau, Banco Espírito Santo, Administração do Banco de Portugal, encosto na Presidência da SIBS, aulas na universidade (entretanto cai-lhe o cabelo! logo, ar menos petit bourgois), entourage do PR , lugar no Conselho de Estado, palestras moralistas no prime time das televisões, publicação livresca de cariz radical-moralista ultra-liberal, a municiar a corja interna e internacional chupista (não há alternativa, como o prova a ciência das estatísticas!), enfim, um esforço teórico imenso, uma pose estudada a pulso, um "grand professeur" acima da política, teórico da grande conciliação, uma invejável reputação (que menino, diria o EÇA! Ora, no auge, após uma vida a construir O HOMEM e O ECONOMISTA TEÓRICO ORGÂNICO do REGIME, eis que o mesmo regime lhe mandam para os pés uma casca de banana de todo o tamanho, que não pode recusar pisar. E não a pode recusar a Ricardo Salgado com quem tem uma velha aliança (e lhe vela pela família mais jovem). Não a pode recusar a Cavaco, o grande nobilitador, com o qual se identifica profundamente. Não a pode recusar a C. Costa, esse mago prestidigitador, que o convida para a missão impossível, mas lhe deixa como compensação secreta manter o caminho das pedras para a protecção no grande albergue que é o Banco de Portugal. Uma retirada de fininho aos 62 anos, um gabinete luxuoso, um estatuto de consultor internacional atrás do Banco independente ... e mais que não sabemos. A vida custa a todos! Perdeu a sua Reputação, mas por causa disso mesmo, ainda lhe resta a porta grande do dinheiro ou a porta de um lugar no FMI (como aconteceu ao colega Victor Louçã Gaspar) ou no BEI ...

sáb Out 18, 04:55:00 da tarde